Estudo | Glenio Fonseca Paranaguá - O EVANGELHO SEM MÁSCARAS
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O EVANGELHO SEM MÁSCARAS
Percorria Jesus por toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades. Mateus 4:23.
Essa é a primeira vez que aparece, escrita, a palavra evangelho na Bíblia, mas, não é sua primeira manifestação. O evangelho deu as caras logo que o pecado entrou no jardim do Éden, e quando Deus faz o Seu primeiro sacrifício, para cobrir a nudez do casal envergonhado, o evangelho já se mostrou vivo e ativo como a boa notícia da redenção.
O evangelho fala desse Deus que se importa com aqueles que se extraviaram, portanto, fala de Quem busca esses rebelados. Nada tem a ver com a necessidade do ser humano arrogante, em si, mas com a demonstração do amor da Trindade e da Sua glória.
Alguém me abordou: - você pregou a libertação em Cristo, mas não citou, João 8:32, nem Gálatas 5:1. Vocês aí na PIBLON não pregam mais o novo nascimento. Eu não vejo mais a citação de textos como João 3, Romanos 6, Gálatas 2.
Surpreendeu-me. Primeiro, porque nós continuamos pregando esses mesmos textos. Segundo, porque antes desses textos existirem, parece que não havia libertação, nem ainda, novo nascimento! Tudo faz crer, para muitos, que, se não pregarmos usando determinados capítulos e versículos, não acontece nada de vida espiritual.
Creio que a salvação é tão-somente pelo Verbo de Deus. Agora, uma questão: será que antes de Moisés ter escrito os cinco primeiros livros da Bíblia, a Trindade jamais salvou alguém? Como aconteceu a salvação de Abraão, já que, antes dele não havia um único texto escrito? Essa é uma realidade que precisamos entender. Ou não?
O pecado entrou na raça adâmica pelo primeiro casal e o ser humano, a partir daí, se tornou totalmente perverso por natureza, corrupto por essência, além de morto em seu espírito, ou seja, separado completamente de Deus. Ninguém, naturalmente, poderá buscar a Deus. Todos nós, ao nascermos neste mundo, somos de fato inimigos de Deus e irreconciliáveis com Ele, por nós mesmos. Esta é uma realidade sem saída, para nós.
Se a obra da redenção for apenas através dos textos escritos, certamente não haveria a menor possibilidade de salvação na era pre-diluviana. Como eles foram salvos, se não tinham João 3, nem Romanos 6, nem Gálatas 2? Ou ninguém foi salvo nessa era?
A cronologia bíblica mostra 6.000 anos de história humana na terra, e cerca de 3.500 anos do registro das Escrituras. Será que durante esse tempo, de mais ou menos 2.500 anos, Deus nunca salvou ninguém? E, se salvou, como foram salvos?
A Bíblia diz que a fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus. Agora, como foi que os três membros do grupo antediluviano, Abel, Enoque e Noé puderam entrar nesse rol das pessoas de fé, se eles nunca leram João 3, nem Romanos 6, nem Gálatas 2?
O Evangelho é de realidade eterna; jamais esteve atrelado a qualquer estilo de interpretação ou condicionamento histórico. Quando se fala do Evangelho, fala-se de uma Pessoa e não de um conceito. Não se trata de algo que fazemos, mas do que Deus faz.
Em Apocalipse 14:6 há uma afirmação acerca do Evangelho eterno que deveria ser pregado à cada nação, língua, tribo e povo. Ora, se o Evangelho for de fato eterno, aí temos que concluir que se trata de uma boa mensagem que antecede a própria criação.
Antes do princípio, portanto, antes da origem e queda da raça humana, Deus já se revelava Salvador. Como disse alguém: antes da luz já havia cruz. Evangelho é o Deus eterno se demonstrando favorável à criatura rebelada, que quer ser como o Criador.
O Evangelho não é qualquer esforço do ser humano para alcançar a Deus. É a misericórdia de Deus para poder alcançar o homem. Cristo Jesus é o Evangelho eterno e gratuito, em pele humana à cata dos revoltados do Éden para torná-los filhos do Altíssimo.
Segundo o apóstolo Pedro, o Evangelho é, sim, uma Pessoa e a boa notícia do resgate feito por essa Pessoa, através do sangue que foi conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós, 1 Pedro 1:20. Trata-se do Deus humano, humanizando o homem desumano e soberbo pela mania de ser como Deus. É a salvação da independência arrogante do ser humano.
A boa nova do Evangelho tem a ver com a morte do arrogante ego, juntamente com Cristo crucificado e uma nova vida mediante à Sua ressurreição. A boa notícia não é de uma reforma ou evolução de Adão, mas da substituição do velho homem, pelo novo.
Substituição e não reforma. Substituição e jamais conserto. O Evangelho nunca propôs um remendo de pano novo em roupa velha. Não se trata de melhorar um ser caído ou restaurar o velho Adão corrupto. Tem a ver com novidade ou substituição de vida.
Deus não conta com os feitos do ser humano para que esse seja aceito. Isto já aparece no primeiro sacrifício do Éden. É Deus quem faz o sacrifício e cobre o casal. Fez o SENHOR Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu. Genesis 3:21. O ser humano depravado e contaminado não pode se regenerar ou descontaminar.
A nossa salvação não depende do que nós fazemos, mas daquilo que o Senhor Deus fez e faz. Não é apenas a libertação do pecado, mas, também, do controle de nosso ser. Somos libertos tanto da condenação do pecado, como da condução da nossa vida.
Ninguém é salvo porque faz parte de uma igreja, mas porque foi salvo, sim, de sua autonomia, de sua rebeldia, dos seus pecados e da sua religião. Não há salvação por meio do conhecimento doutrinal. Não é uma doutrina certa que nos salva, ainda que isso seja importante, porém, a Pessoa certa. Não é o conhecimento de verdades ou doutrinas, mas o conhecimento da Verdade, isto é, a Verdade encarnada, e esta Verdade é Cristo.
Quando Jesus disse em João 8:32: - e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará, Ele não estava se referindo a um conceito qualquer, mas à Sua Pessoa. O fato de nós sabermos a Bíblia de cor e salteado não nos tira da perdição. Os fariseus, no tempo de Jesus, eram peritos nas Escrituras, contudo, estavam distantes da salvação.
Eles eram doutores na exegese textual, embora, ignorantes da vida espiritual. Ensinavam sobre a lei, mas nada conheciam da graça. Eram os mestres do saber moral, mas tolos no que diz respeito ao viver relacional com a Trindade.
A lei é santa, justa e boa. O pecador é impuro, injusto e mau. A religião usa a lei para que o pecador a cumpra, todavia, ele é incapaz. Por isso, ao tentar cumpri-la, acaba se tornando um ator de teatro. Ele se esforça, contudo, todo o seu esforço é tolo e inútil.
Saulo era desses fariseus irrepreensíveis, embora estivesse irremediavelmente perdido. Era o tipo de um ser moralmente inatacável, mas inteiramente corrompido. Ainda que, sem mácula na conduta, a sua alma arrogante transpirava uma justiça ensimesmada de orgulho. Ele conhecia a lei que o tornava aparentemente justo, todavia, nada sabia do Evangelho que o justificava. Era um legítimo religioso, que nada sabia do Evangelho.
A lei é santa, justa e boa, porém nós somos incapazes de vivê-la. Então, Cristo assume nossa causa, morre nossa morte para o pecado e transplanta a vida ressurreta a nós pela graça, a fim de vivermos pelo Espírito Santo que vive em nós, a santidade da lei.
O Evangelho nada tem a ver com religião, por melhor que essa seja. Enquanto esta se fundamenta no que o ser humano faz, a fim de tornar-se adequado perante o seu deus, o Evangelho se revela no Deus vulnerável, que assume a inadequação de ser caído e vai até a cruz, para crucificar a presunção humana de querer ser como Deus.
Alguém já disse: “A religião é exatamente como uma perna mecânica. Não tem calor nem vida; embora, ajude o sujeito a claudicar por aí, nunca se torna parte dele, além do que, é preciso ser colocada todas as manhãs.” A religião é o arranjo para o caos moral.
O Evangelho é a vida de Cristo fluindo nos filhos de Deus. Não se trata de um implante de membros, mas de um transplante de vida. Não é um mero enxerto dum galho bom numa cepa ruim. É a imputação da Justiça de Deus, após, amputação da arrogância do homem. A morte do ego na cruz antecede a doação da vida ressurrecta de Cristo.
A boa ordem é: Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida; Romans 5:10. Isto é Evangelho: não mais eu, mas Cristo. Não há vida de Cristo sem a morte do velho Adão. Também, o Cristianismo não é uma mistura de humanismo com judaísmo, mas a substituição do eu por Cristo. É isto aí. Amém.