Estudo | Glenio Fonseca Paranaguá - Da resistência à persistência
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Da resistência à persistência
A existência dos pecadores, eleitos por Deus, é marcada por cinco fases distintas: resistência, consistência, desistência, insistência e persistência.
A vida cristã é um milagre da graça. O homem natural é por índole inimigo de Deus e não tem a menor disposição para viver pela graça. Todos nós nascemos neste mundo em oposição a Deus, na presunção de sermos auto-suficientes. Somos, primeiramente, oponentes do evangelho da graça. E a vós outros também que, outrora, éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras malignas, Colossenses 1:21.
A rebeldia do pecado faz do ser humano um fugitivo decidido da presença de Deus, relutante à comunhão com ele. Somos uma espécie arisca que escapa o quanto pode da intimidade com Deus. A nossa intenção, em conseqüência do pecado, é nos ocultar da convivência com o Senhor. Quando ouviram a voz do SENHOR Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do SENHOR Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim. Gênesis 3:8.
Ninguém busca a Deus voluntariamente, pois a resistência contra Deus é inata em qualquer pessoa. Temos uma birra automática, do eu versus Ele, que nos impede de buscá-lo com espontaneidade. Não há justo, nem sequer um, não há quem entenda, não há quem busque a Deus. Romanos 3:10-11.
Deus nunca foi e nunca será a prioridade do gênero adâmico. Para que alguém o possa buscá-lo é necessário um milagre divino. Antes de o homem procurar a Deus é preciso que Deus o tenha escolhido e o ache. A experiência no evangelho da graça começa pela vivificação daquele que se encontra morto em delitos e pecados. Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados. Efésios 2:1.
A regeneração divina precede qualquer reação humana, pois a realidade da salvação principia com a vida. Um morto, espiritualmente falando, não pode confiar em Cristo, do mesmo modo, que a finada filha de Jairo não podia se levantar sem a restauração da vida, promovida por Jesus. Tomando-a pela mão, disse: Talitá cumi!, que quer dizer: Menina, eu te mando, levanta-te! Marcos 5:41.
Para a menina se levantar do seio da morte é preciso que Jesus lhe restitua a vida. Do mesmo modo, sem a vida espiritual concedida pelo Espírito Santo, através da pregação da palavra, não há consistência para a salvação. Não existe conversão sem que antes haja o milagre da regeneração. A vida cristã começa com o ato divino unilateral da vivificação do pecador. Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas. Pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente. Tiago 1:18 e 1 Pedro 1:23.
O arrependimento e a fé são os efeitos graciosos da vida que o Espírito dá ao morto espiritual. Se a salvação é pela graça, é só pela graça que as pessoas podem crer e se arrepender. A essência da vida cristã é a graça e a essência da graça vem revelar Deus, como sendo favorável para com o miserável pecador.
Uma vez que o Deus da graça aceita o pecador mediante o sacrifício de Cristo, cabe à nova criatura renunciar-se a si mesma, como expressão dessa mesma graça em sua decisão. Ao receber a Cristo como o Senhor da sua existência, o regenerado abdica de si mesmo, como passaporte da graça para a vida plena. A desistência de si próprio é a única via apropriada para aquele que foi aceito incondicionalmente pela graça de Deus em Cristo. "Sem cruz não se segue a Cristo".
Martinho Lutero foi genial nessa conclusão: Deus cria a partir do nada. Portanto, enquanto o homem não se reduzir a nada, Deus não pode fazer nada com ele. Hoje em dia, fala-se muito em auto-estima como pré-requisito para uma vida integral, mas o que de fato está faltando é a renúncia de si mesmo, como condição necessária para a vida abundante. Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo. Lucas 14:33.
O discipulado de Cristo não é um convite para férias num balneário. Não há uma forma mágica para levar a cruz dia após dia, nem a renúncia se constitui num divertimento de faz de conta. Ainda que a fé cristã seja agradável e graciosa, ela não é irresponsável. A canga de Cristo é suave e o fardo dele é leve, mas não é leviano.
Creio que no cristianismo a conversão transforma marmanjos em crianças e a austeridade legalista, em jovialidade. Não consigo admitir a expressão legítima da prática evangélica sem o bom humor de um espírito lúdico. Mas isso não anula o compromisso sensato de uma disposição obediente, como promoção da cruz. E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo. Lucas 14:27.
Josif Ton pontua com precisão: Quando você coloca a vida no altar, quando se prontifica e aceita morrer, você se torna invencível. Não tem mais nada a perder. A desistência de si mesmo é o inicio da vida plena de Cristo, onde o cristão não tem o script, nem o domínio do programa. Contudo, seguir a Cristo requer insistência de propósito.
A santificação é um processo que demanda continuidade, olhando sempre para frente. Mas Jesus lhe replicou: Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus. Lucas 9:62. É impossível dirigir um automóvel em alta velocidade, numa competição no autódromo, olhando fixo no retrovisor. Não há retrocesso na jornada para o céu, embora possa haver um pit stop, para cuidar de alguma avaria ou ajuste no mecanismo. Mas aquele que toma a cruz, dia a dia, segue a Cristo para sempre.
A graça da santificação é modelada pela presteza submissa e incessante da pessoa regenerada. Contudo a obediência do cristão é diferente da observância obrigatória da lei. Enquanto a lei faz com que a bênção seja um resultado da obediência, a graça faz com que a obediência seja conseqüência da bênção em Cristo e a santificação a expressão da própria vida de Cristo em nós. Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção. 1 Coríntios 1:30.
A vivificação do pecador implica na conversão do salvo. A conversão promove a santificação permanente do santo. A santificação culmina numa persistência inalterável do filho de Deus. Não há salvação sem perseverança dos santos. Não há perseverança sem uma firme persistência. Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que, havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa. Hebreus 10:36.
Muitos até começam bem dispostos na corrida, mas logo vem o desânimo. A prova pede, mediante o provimento da graça, tenacidade e constância, por isso retroceder no trajeto, só vem comprovar a falta de convicção. Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta. Hebreus 12:1. Aquele que não persevera na corrida, nunca foi salvo pela graça de nosso Senhor Jesus Cristo.
Do começo ao fim, a vida cristã é miraculosa e maravilhosa. Cristo é a origem da vida espiritual e nele está a consumação de todo o processo desse viver sobrenatural. A raiz
dessa constância é a dedicação promovida pela graça. Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém! Romanos 11:36.