Estudo | Glenio Fonseca Paranaguá - Domesticando os dons
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Domesticando os dons
O apóstolo Paulo mostra que Deus é sempre fiel, mesmo quando o seu povo é infiel. O caráter de Deus é imutável e os seus dons são sem arrependimento. Ele não dá uma coisa para depois tomá-la de volta. Ainda que Israel tenha sido desleal com Jesus, os dons concedidos ao seu povo não foram revogados. A graça nunca retroage na sua ação, nem estorna a sua doação.
Deus não é um vira-casaca ou uma Maria-vai-com-as-outras. Ele não dá algo que depois venha a confiscar. A salvação é um patrimônio eterno e os seus dons não ficam nesse vai e volta da instabilidade humana. Quando Deus dá um presente a alguém não há possibilidade de retomá-lo, pois ele é constante em seus atos. Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança. Tiago 1:17.
Muita gente que fala demais, costuma falar de perda da salvação ou ainda da remoção dos dons espirituais, mas fala de algo que não entende de fato, além de falar com uma atitude de quem é manhoso. Esses inconstantes emocionais pensam que Deus reage com a mesma variação que caracteriza suas personalidades variantes. Sendo assim, essa arraia-miúda supõe que Deus é tão temperamental com ela, mudando conforme o seu humor instável.
É preciso firmar os nossos passos na palavra de Deus e analisar o assunto à luz do seu caráter inalterável. Só um Deus firme e imutável, que tem uma palavra eterna, pode estabilizar a nossa experiência de fé. Não há necessidade de confinar o ensaio dos dons a uma compreensão meramente caseira, na tentativa de domesticar o assunto que, certamente, ultrapassa o nosso entendimento.
Com relação à vida espiritual, é necessário saber a contestação que há entre os dons do Espírito e os poderes latentes da alma. Num estudo anterior, já arriscamos mostrar as semelhanças e diferenças que existem entre os dois enfoques. Sem o conhecimento adequado dessa questão, alguém pode utilizar-se dos seus poderes latentes, supondo que está manifestando os dons do Espírito Santo.
Por outro lado, a Bíblia mostra também, que é realmente imperioso crescermos no conhecimento verdadeiro dos dons espirituais. A respeito dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes. 1 Coríntios 12:1.
Há muitos na igreja atual que são incapazes de discernir a importância dos dons em suas vidas. Há também aqueles que admitem que alguns dons já cessaram, mas deixam dúvidas quanto ao critério da descontinuidade desses e da permanência de outros. Qual é a regra que define a interrupção do dom, operação de milagres e sustenta, por exemplo, a permanência de dons como a contribuição e a fé? Por que uns dons são retirados e outros continuam?
Essa é uma questão muito complicada para todos os que defendem a suspensão dos dons espirituais no fim da era apostólica. Muitos dizem que os dons tiveram um papel transitório e que foram cassados com a definição do cânon. O ponto é: quais os dons que prescreveram e quais os que permanecem? Se o tempo de validez de alguns dons já caducou, por que outros ainda continuam vigorando?
O problema da ignorância a respeito dos dons espirituais é realmente crucial. O apóstolo Paulo não gostaria que fôssemos inábeis nesse assunto, deixando, por isso, algumas listas desses dons bem entrelaçados, para que pudéssemos compreender o valor de cada um. Não me parece que alguns dons foram abolidos, mas a nossa maior dificuldade aqui é o profundo desconhecimento do assunto.
O tema requer toda vigilância, mas ninguém deve negar a existência daquilo que é autêntico só porque muita coisa falsa sobe na passarela. O fato de existir o poder latente da alma correndo no páreo, não anula a manifestação dos dons espirituais. Creio que é mister que se tenha todo cuidado com o tópico e que se deva zelar na busca dos dons. Segui o amor e procurai, com zelo, os dons espirituais, mas principalmente que profetizeis. 1 Coríntios 14:1.
Paulo admite, sim, uma escala de valores. Ele acredita que alguns dons são mais relevantes que outros, e nos faz crer que existe uma linha graduada apontando para os melhores dons. Entretanto, procurai, com zelo, os melhores dons. E eu passo a mostrar-vos ainda um caminho sobremodo excelente. 1 Coríntios 12:31. Não há suspeita aqui. O apóstolo admite claramente que há dons que são melhores que outros, e que o amor é a excelência da vida cristã.
Fica claro que os dons obedecem a uma hierarquia, mas não é nada fácil a construção dessa escala. O apóstolo Pedro divide os dons em duas categorias: aqueles que estão vinculados com a palavra e os que promovem o serviço. Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém! 1 Pedro 4:10-11.
Eu vejo os dons em quatro grupos distintos. Aqueles que são básicos ou essenciais à experiência cristã: vida espiritual, fé e arrependimento; aqueles que estão ligados aos ministérios específicos: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres; aqueles que se relacionam com o serviço em geral: ministério, contribuição, governo, misericórdia, cura, operação de sinais, discernimento e socorros; e aqueles que estão vinculados ao ensino pessoal ou à edificação da igreja: profecia, ensino, exortação, sabedoria, conhecimento, variedade de línguas e interpretação de línguas.
Volto a questionar a matéria. Quais desses dons são os permanentes e quais são os transitórios? E quais são os melhores dons? Quanto à transitoriedade dos dons fica muito difícil determinar quais são os que ficam e quais são os que já se extinguiram, se é que algum perdeu o tempo de validade. Mas com relação aos melhores dons, uma palavra-chave para essa classificação escalonada é: a glória de Deus acima de tudo, a edificação da igreja como base, a proclamação do evangelho aos pecadores e a alegria do crente em sua missão.
Os dons espirituais devem ser usados basicamente para edificação da igreja. O alvo desses dons é o aperfeiçoamento do corpo de Cristo, para que o Pai seja glorificado na existência de sua igreja nesse mundo. Assim, também vós, visto que desejais dons espirituais, procurai progredir, para a edificação da igreja. 1 Coríntios 14:12.
Se não houver aprimoramento na vida dos santos e crescimento espiritual daquele crente que manifesta o dom, não há a menor importância na utilização de qualquer dom. Contudo, é bom relembrar que os dons só estarão equilibrados na convivência da igreja se estiverem distribuídos de acordo com a supervisão da cruz. Sem cruz não se segue a Cristo. Sem a morte do ego o dom seria uma exibição danosa.
Os dons espirituais são dados pelo Espírito Santo para um fim proveitoso na proclamação do evangelho da graça. Por este motivo, cada filho de Deus que se encontra equipado com estes dons, deve prosperar na aplicação apropriada dos seus dons. Nenhum deles foi dado para o usufruto pessoal, nem para o benefício de um sistema religioso qualquer.
Todos os dons são do Espírito Santo e devem ser consagrados, pelo crente, à obra exclusiva do Reino de Deus. Também, ninguém tem o direito de exibir o poder dos dons com a finalidade de demonstrar sua espiritualidade. Todo aquele que, pelo Espírito Santo, for utilizado na manifestação de algum dom deve sair da cena, atribuindo toda glória ao Deus de toda graça.
Os dons são do Espírito, mas o seu desempenho está atrelado à diligência do crente. Nenhuma pessoa pode se eximir de sua responsabilidade na aplicação dos dons. Paulo diz ao seu filho na fé, Timóteo, que ele seja participativo no bom emprego do seu dom. Não te faças negligente para com o dom que há em ti, o qual te foi concedido mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério. 1 Timóteo 4:14.
É indispensável investir no conhecimento dos dons, bem como no seu bom aproveitamento. Deus nos tem chamado para sermos colaboradores com ele no seu projeto de pregação e extensão do seu Reino. E ele nos tem equipado com os seus dons para que todos nós possamos cumprir a nossa missão com as condições adequadas, para que ele seja o único glorificado nessa história. Porque de Deus somos cooperadores; lavoura de Deus, edifício de Deus sois vós. 1 Coríntios 3:9.
Como cooperadores de Deus devemos contribuir ativamente no ministério que o Senhor nos tem designado. Cada filho de Deus é portador de pelo menos um dom espiritual e ninguém tem o direito de sepultar o seu dom.
Os dons são irrevogáveis e nós somos responsáveis pela sua aplicação. Não podemos ignorar o valor dos dons na vida da igreja, nem de ser zelosos na cata dos melhores dons. Temos que progredir na utilização dos dons para a edificação da igreja e não podemos negligenciar esse assunto. Todavia, se os dons estiverem adormecidos por alguma razão, está na hora de revigorar esses dons que Deus nos tem dado, através do seu Espírito. Por esta razão, pois, te admoesto que reavives o dom de Deus que há em ti pela imposição das minhas mãos. 2 Timóteo 1:6.