Estudo | Glenio Fonseca Paranaguá - O dono dos dons
![](../content/imgsite/separador-ib.jpg)
O dono dos dons
Deus Pai é o soberano Senhor e o dono de todo o universo. Ao SENHOR pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam. Salmos 24:1. Nada está fora do seu domínio, e ele é o titular de todos os dons.
O Pai deu Cristo Jesus como o dom mais excelente ao mundo. Cristo é o dom de Deus para a salvação dos pecadores. Ele é o único que satisfaz a sede da alma. Ele é o presente de Deus para dessedentar o boquisseco. Replicou-lhe Jesus: Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede: dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva. João 4:10.
O Pai enviou Jesus Cristo como o único dom da salvação, e nos dá a fé para sermos salvos, por meio dele. Cristo é o dom de Deus ao pecador, gerando vida aos mortos em delitos e pecados, trazendo fé e arrependimento aos regenerados. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; Efésios 2:8.
O Pai enviou dois emissários da Trindade a terra. São os dons mais excelentes que se pode referir. Não há nada mais precioso do que estes dois dons de Deus.
Cristo Jesus é o dom do Pai para a salvação do mundo e o Espírito Santo é o dom do Pai, enviado em nome de Jesus Cristo, para equipar a sua igreja. Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Atos 2:38.
Só aquele que, pela graça, recebeu o dom da salvação, em Cristo Jesus, tem condições de manifestar os dons espirituais sob o governo do Espírito Santo. Mas a Trindade está diretamente envolvida com o exercício dos dons.
Creio que nenhum dom é patrimônio pessoal do crente, ainda que Deus possa utilizar-se do crente para manifestar o seu poder, através de certos dons que lhes são particulares. Quero que todos os homens sejam tais como também eu sou; no entanto, cada um tem de Deus o seu próprio dom; um, na verdade, de um modo; outro, de outro. 1 Coríntios 7:7. Contudo os dons continuam sendo atributos celestiais de propriedade do Deus todo-poderoso.
Os dons espirituais são divinos e são distribuídos no ministério dos crentes por Deus. O Pai é o ordenador dos ministérios e ele mesmo confere os dons aos regenerados com o objetivo da edificação de sua igreja. A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas. 1 Coríntios 12:28.
Nenhuma pessoa tem a propriedade dos dons espirituais e ninguém deve levar vantagens na utilização destes dons. Deus é o único dono dos dons e só ele pode utilizá-los adequadamente para sua glória. O ponto fixo do universo, o fato inalterável, é o trono de Deus, já dizia G. Campbell Morgan.
Deus é soberano e confere os seus dons conforme a sua vontade. Alguém disse que uma perfeita conformidade com a vontade de Deus é a única liberdade soberana e completa. Deus é o dono dos dons e nenhum de nós tem o direito de demandar com ele a respeito dos ministérios que ele nos tem confiado. Deus não pergunta sobre nossa capacidade ou incompetência, ele requer nossa inteira submissão.
O cardeal François Fenelon batia nesse ponto: faça desta regra simples uma diretriz para sua vida: não ter nenhuma vontade que não seja para Deus. Aquele que se entrega a Deus sem restrição, não ficará sem a provisão divina para o ministério que Deus lhe tem designado. Deve ser extremamente capaz o poder cuja eficácia decorre da fraqueza que é suprida unicamente pela suficiência do poder de Deus.
No Reino de Deus a fraqueza é a condição curiosa para a consignação do poder. Antes de o homem ser revestido com o poder do alto, ele precisa ser desvestido da sua arrogância natural. Antes de ser capacitado com os dons do Espírito, ele deve ser crucificado com Cristo. A cruz de Cristo sempre será uma agressão para o homem natural, mas é o único antídoto para neutralizar a soberba do ego. Sem cruz ninguém consegue ter acesso ao trono de Deus.
O poder dos dons espirituais vem sempre precedido de um esvaziamento da alma. O vau de Jaboque antecede a direção que o novo príncipe passa a desfrutar. O impetuoso Jacó, o indócil fugitivo e trapaceiro irrecuperável, necessita de uma derrota radical antes de ser transformado no nobre cavalheiro da corte divina. Todavia, ele deve trazer as marcas da sua condecoração no esqueleto da própria identidade. Israel é manco.
Os sinais da cruz são as insígnias distintivas da aristocracia celestial. Vemos o Rei dos reis, assentado no seu trono glorioso, exibindo no seu corpo as cicatrizes do Calvário. Vemos também aqui na terra os seus súditos ostentando no caráter o mesmo estigma.
Hoje, o Deus exaltado, com as marcas da cruz; foi o servo, com uma bacia nas mãos lavando pés, no passado. Antes de ser exaltado ele se humilhou. Ninguém pode ser usado por Deus sem as credenciais do Cordeiro. O altar de Deus é alcançado quando se desce pelas escadas da singeleza de coração.
Paulo, o apóstolo perseguido e injuriado, mas não apoquentado, bradava com afoiteza: Quanto ao mais, ninguém me moleste; porque eu trago no corpo as marcas de Jesus. Gálatas 6:17. O poder legítimo traz o selo do quebrantamento.
Antes de Deus revestir alguém com o poder do Espírito Santo ele vem desvendar os segredos do coração humano. Por trás de muita gente aparentemente humilde existe um espírito de arrogância mascarado. Blanchard afirma que não há no homem espírito que mais se oponha ao Espírito de Deus do que o espírito de orgulho. E pior ainda é o orgulho dissimulado de modéstia. Com certeza um déspota vestido de mendigo é um bom disfarce para enganar crendeiro.
Sem a cruz não há humildade, sem humildade não há submissão, sem submissão não há revestimento do poder divino. Não há dons espirituais agindo em gente exigente. Deus não aloca os seus dons em corações vaidosos. Como ensinava Stephen Charnock, uma fé orgulhosa é uma contradição tão grande quanto um demônio humilde.
Mas as doutrinas humanas não contêm poder para humilhar. É preciso um poder de cima para levar os homens para baixo. Não estou falando de aviltamento emocional, mas de total desestima do nosso egoísmo. No conceito do Reino de Deus, quanto mais elevado estiver o homem na graça, menor ele será aos seus próprios olhos, dizia o respeitável pregador C. H. Spurgeon.
Todo aquele que opera com altivez não atua sob os auspícios da manifestação dos dons espirituais. Os dons são de Deus e ele não divide a sua glória com ninguém. Por amor de mim, por amor de mim, é que faço isto; porque como seria profanado o meu nome? A minha glória, não a dou a outrem. Isaías 48:11. O contexto aqui é diferente, a verdade é a mesma. Deus não reparte a sua glória com a inferioridade arrogante daqueles tipos que se desensoberbecem com o fim de merecer o reconhecimento dos ingênuos.
Muitos se menosprezam aos olhos das platéias para pescar os mais carentes, que também apreciam o jogo da sedução. Graças a Deus que no seu Reino não há lugar para esperteza. Antes de Deus encarregar aos homens os seus dons, ele descarrega os sentimentos de altivez e a necessidade de reconhecimento, para que não haja proveito pessoal tramitando nas relações dos seus filhos.
Os dons são de Deus e ele não concorda que as suas virtudes sejam usadas para satisfazer os interesses egoístas. Ninguém pode manipular a Deus nem ele se deixa ser tapeado. O poder usado pela pessoa que finge ser regenerada não procede do trono da graça. Deus não admite na sua obra catadores de confetes, nem promotores de venda.
Já apresentei em outro estudo a semelhança dos poderes latentes da alma com os dons espirituais. Muitos desprevenidos acabam se embananando nesse terreno, porque não sabem distinguir entre um e outro.
Ao examinarmos apenas os resultados externos, podemos ter grandes dificuldades em avaliar a fonte do poder, mas se nos ativermos ao procedimento daquele que desencadeou o prodígio, podemos detectar a origem.
Todo aquele que é usado por Deus dá toda a glória a Deus, saindo do palco sem qualquer reivindicação. Enquanto aquele que utilizou os seus próprios poderes não arreda o pé da cena, e exige o reconhecimento do seu valor pessoal a todo o custo. Quem emprega os seus talentos ou se serve dos poderes latentes da alma, sempre requer a compensação da sua atuação.
A reclamação é um dos principais sintomas da autopatia. Todas as pessoas centradas em si mesmas estão descontentes e vivem pleiteando direitos e implorando considerações especiais. A murmuração é indicio da insatisfação que retrata a indigência moral tão solícita de ressarcimento. Veja o protesto daquele irmão malacafento: Mas ele respondeu a seu pai: Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos; Lucas 15:29.
Veja bem: todo aquele que usa os seus talentos ou poderes da alma, vive sucessivamente pleiteando a reparação do seu desgaste como alguma indenização pelo seu desempenho. Enquanto os filhos de Deus, usados pela graça, vivem agradecendo sempre a soberania e dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz. Colossenses 1:12.