Estudo | Glenio Fonseca Paranaguá - O Progresso sem Regresso
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O Progresso sem Regresso
O cristianismo se caracteriza primeira-mente pela pessoa de Cristo. Cristia-nismo é antes de tudo, Cristo alcançando os homens. Thomas Arnold disse que a diferença entre o cristianismo e todos os outros sistemas religiosos consiste principalmente nisto: Em todas as religiões vê-se o homem procurando a Deus, enquanto no cristianismo temos Deus procurando o homem. A fé cristã baseia-se em Deus estreando a sua graça.
A obra da salvação tem sua iniciativa no coração de Deus e sua execução, na pessoa de Cristo. O plano e o pro-pósito de Deus em salvar são tão eternos como Ele próprio. Nenhum pecador jamais foi salvo por seu interesse pessoal por Deus, nem pela sua diligência em dar o seu coração a Jesus. Somos salvos pela atividade soberana da graça de Deus, ao nos atingir em cheio, por meio da obra de Cristo. Mas, quando se mani-festaram a bondade e o amor pelos homens da parte de Deus, nosso Salvador, não por causa de atos de justiça por nós praticados, mas devido a sua misericórdia, Ele nos salvou pelo lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que Ele derramou sobre nós genero-samente, por meio de Jesus Cristo nosso Salvador, a fim de que, justificados por sua graça, nos tornemos seus herdeiros, tendo a esperança da vida eterna. Tito 3:4-7 (NVI). Cristo não é apenas o Salvador, mas também a própria salvação. Foi Ele quem realizou, em nosso benefício, a obra da salvação, e é Ele quem opera em nós, os efeitos eternos da salvação. Todos os dias podemos ver algumas coisas novas em Cristo. O rio do seu amor não tem margem nem fundo.
A salvação não é uma apólice de seguro adquirida por nós, para nos ressarcir dos prejuízos decorrentes do pecado. Antes de qualquer coisa, a salvação é o testamento da graça de Deus concedida aos pecadores indignos, pelos méritos de Cristo. Somos alcançados inicialmente pela suficiente graça de Cristo e nos tornamos, deste modo, dependentes por inteiro desta graça, para o nosso progresso. Pois é pela graça que vo-cês são salvos, mediante a fé. Isso não depende de coisa alguma que vocês tenham alcançado – é um presente gratuito de Deus; e por não ser algo merecido, ninguém pode se vangloriar disso. Efésios 2:8-9 (CPH). Em razão da integridade da graça, e, de sua integral realização, no caminho do cristão não há sindicato, juizado de pequenas causas ou tribunais de apelação. A vida do cristão não é lutar por uma posição, mas a partir de uma posição. Não somos nós que conseguimos atingir a justificação dos nossos pecados, mas pela graça de Cristo recebemos uma posição, que não pode ser alterada depois de ser concedida.
O programa de Deus que envolve a salvação do homem não se constitui num paliativo para remediar um acidente, mas é um projeto que antecede a própria criação. Deus não foi surpre-endido com o pecado, ainda que este não estivesse nas cogitações positivas da sua arquitetura. Por mais complicado que nos pareça entender este ponto, a graça preventiva já estava acionada antes do desastre. E uma vez alcançados pela obra plena de nosso Salvador, não há meio de anular os resultados permanentes de sua eterna salvação. Jesus foi seriamente enfático ao afirmar: As minhas ovelhas ouvem a minha voz; Eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna, e elas jamais perecerão; ninguém as poderá arrancar de minha mão. Meu Pai, que as deu para mim, é maior do que todos e ninguém as pode arrancar da mão de meu Pai. João 10:27-29.
Uma vez salvos, salvos para sempre. Mas fomos salvos para uma jornada em frente. Não há retrovisor no veículo que nos conduz aos céus. Não há retorno ou desistência na experiência dos verdadeiros e autênticos rege-nerados. A salvação implica em navegarmos a barlavento, isto é, a favor do vento do Espírito. Replicou-lhe Jesus: Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus. Nós, porém, não somos dos que retrocedem para perdição; somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma. Lucas 9:62 e Hebreus 10:39.
Entretanto, a vida dos renascidos não é uma vida perfeita. Todos aqueles que passaram pela graça do novo nas-cimento são motivados ao progresso contínuo e persistente de uma vida espiritual crescente. A estagnação divulga a imperícia, ou melhor, a falta de experiência. Não podemos buscar descanso ou tranqüilidade em um mundo em que aquele a quem amamos nunca teve nada disso. A normalidade sempre aponta para o crescimento. Não faz parte dos moldes da vida o estacionamento dos filhotes, crias ou rebentos. O modelo sempre indica o padrão normal: A vida cresce e progride. Alguém já disse: A salvação é um capacete, não uma toca de dormir. Certamente é uma anomalia o marasmo espiritual. A paralisia do espírito atesta a ausência de vida espiritual. Os melhores cristãos que existem entre nós são apenas cristãos em formação. De forma alguma são produtos acabados. Irmãos, não penso que eu mesmo já tenha alcançado, mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio da chamada celestial de Deus em Cristo Jesus. Filipenses 3:13-14 (NVI).
Somos salvos, mas não paralíticos. Não há entrevados no caminho da santidade. Deus não nos chamou para o imobilismo. Se você cair, não desista: levante-se! O padre Michel Quoist foi muito feliz nesta idéia: É grave se continuar no chão depois que se levou o tombo, mas é ainda mais grave sentar-se à beira da estrada, crendo que já se chegou ao fim. Não há acidentes nem casualidades na vida do cristão. Não fomos chamados para sermos espectadores da história, mas agentes do reino de Deus neste mundo. Os empreendimentos na vida cristã não são obras do acaso. São expres-sões vivas da graça de Deus na confiante perseverança naqueles que não desistem. A persistência do cristão é um sinal maduro da maturidade espiritual. Não te ponhas de emboscada, ó perverso, contra a habitação do justo, nem assoles o lugar do seu repouso, porque sete vezes cairá o justo e se levantará; mas os perversos são derribados pela calamidade. Provérbios 24:15-16. A perseverança é um precioso elemento que favorece o êxito. Se o justo pode cair sete vezes, significa que ele se levanta uma vez mais. Prosseguir sempre na trajetória cristã é a condição marcante de uma real experiência de transformação.
Os salvos, verdadeiramente salvos, continuam avante na sua caminhada. O cristão jamais recua na sua pere-grinação, diante das dificuldades des-te mundo, nem se envolve com os sistemas que procuram dissolver a graça de Deus, ou que minimizam o valor essencial do sacrifício de Jesus Cristo. Não há fugitivos nem covardes nas fileiras dos mártires, pois o covarde é alguém que em emergências perigosas pensa com as pernas. No Cristianismo não há lugar para desertores nem coveiros da fé. O cristão perfeito é aquele que, tendo consciência de seus próprios fracassos, está decidido a avançar para o alvo, confiante somente na graça de Cristo.