Estudo | Glenio Fonseca Paranaguá - PARÁBOLA DA VIÚVA INSISTENTE
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PARÁBOLA DA VIÚVA INSISTENTE
Orar é um dos segredos da fé cristã. Como um Deus soberano e onipotente quer que seus servos orem para que a Sua vontade seja feita? Qual o significado da oração, se Deus só faz aquilo que estiver segundo a Sua vontade? Por que devemos orar, então?
O apóstolo João foi muito enfático ao dizer: E esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve. 1 João 5:14. Fica claro aqui que a oração é um ponto da adequação à vontade de Deus, e o venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu; Mateus 6:10, é a mola que move o sentido de toda oração verdadeira.
Sendo assim, antes de orar, precisamos entender qual é a vontade de Deus. Por esta razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor. Efésios 5:17. Mas “se você não crer, não compreenderá”, dizia Sto. Agostinho.
Alguém disse que temos que entender que “a oração vem de Deus e... o tempo todo Ele nos está treinando para orarmos.” O Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis. Romanos 8:26.
Como não sabemos orar e somos motivados a orar, precisamos ter a consciência de que oração é algo sobrenatural na vida dos crentes e que “a natureza da bondade divina não está apenas em abrir àqueles que batem, mas também em levá-los a bater e pedir.”
Jesus contou uma história sobre a necessidade de orar sempre. Disse-lhes Jesus uma parábola sobre o dever de orar sempre e nunca esmorecer: Lucas 18:1.
“A parábola da viúva que ora ensina que os homens sempre devem orar e não desanimar. Isso é verdade no sentido geral de todos os homens e de todos os tipos de oração. Mas o sentido especial em que é usado aqui é a oração para que Deus proporcione libertação em tempos de provação. Orar sem desanimar durante o longo e cansativo intervalo entre a Primeira e a Segunda Vinda de Cristo”.
Havia em certa cidade um juiz que não temia a Deus, nem respeitava homem algum. Havia também, naquela mesma cidade, uma viúva que vinha ter com ele, dizendo: Julga a minha causa contra o meu adversário. Lucas 18:2-3.
Essa parábola mostra um juiz injusto que normalmente não se comovia com o temor de Deus ou com o respeito pelo próximo. Havia também uma viúva que estava sendo oprimida por algum adversário sem nome. Essa viúva procurou persistentemente o juiz, pedindo justiça, para que ela pudesse ser libertada do tratamento desumano do inimigo.
Orar não é tanto submeter nossas necessidades a Deus, mas antes de tudo nos submetermos a Ele em completa dependência e persistência.
Jesus coloca aqui uma viúva, que na sua época representava alguém sem apoio da sociedade, uma mulher fraca. Ela estava sendo atacada por um αντιδικος (antídikos) adversário. A palavra usado no grego é de alguém que é contra a justiça, e o juiz é alguém que exerce a justiça, mas ele não tinha nenhuma consideração por ela. Era como o STF atual, contudo essa viúva não se fez de vítima, antes persistiu em sua causa.
Alguém disse: “Deus não presta atenção à pompa das palavras ou à variedade de expressões, mas à sinceridade e à devoção do coração. A chave abre a porta não porque é de ouro, mas porque se encaixa na fechadura.” A viúva não desistiu do seu clamor e sem desânimo continuou insistindo com aquele juiz insensível e iníquo.
Ele, por algum tempo, não a quis atender; mas, depois, disse consigo: Bem que eu não temo a Deus, nem respeito a homem algum; todavia, como esta viúva me importuna, julgarei a sua causa, para não suceder que, por fim, venha a molestar-me. Lucas 18:4-5.
O juiz não se comoveu com o caso; nem com o fato de que a viúva estava sendo tratada injustamente. No entanto, a regularidade com que ela veio diante dele o levou a agir. Sua importunação e persistência trouxeram uma decisão a seu favor.
Então, disse o Senhor: Considerai no que diz este juiz iníquo. Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los? Lucas 18:6-7.
É estranho como o Senhor explicou aos discípulos que, se um juiz injusto é capaz de agir em nome de uma viúva pobre por causa de sua importunação, quanto mais o Deus justo interviria em nome de Seus próprios eleitos. A comparação é surpreendente.
Os eleitos aqui podem se referir em um sentido especial ao remanescente judeu durante o período da grande tribulação, mas também é verdade para todos os crentes oprimidos em todas as épocas da história da igreja. A razão pela qual Deus não interveio antes é porque Ele está pelejando com os homens, não querendo que alguém pereça.
Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra? Lucas 18:8.
Mas chegará o dia em que Seu Espírito não mais lutará com os homens, e então Ele castigará aqueles que perseguem Seus seguidores. O Senhor Jesus encerrou a parábola com a pergunta: "No entanto, quando o Filho do homem vier, Ele realmente encontrará fé na terra?" Isso provavelmente significa o tipo de fé que a pobre viúva tinha.
Mas também pode indicar que, quando o Senhor Jesus voltar, haverá apenas um remanescente que é fiel a Ele. Enquanto isso, cada um de nós deve ser estimulado ao tipo de fé que clama a Deus noite e dia. E tudo indica que esse tempo está chegando.
Estamos vivendo num momento muito complexo. Tudo faz crer que o Senhor está às portas e nossas orações contra o adversário devem ser persistentes. Senhor, julga a nossa causa! O mundo vem se decompondo, e a sociedade se desmanchando.
Como dizia Jim Elliot: “Deus ainda está no trono, nós ainda estamos a seus pés, e entre nós há apenas a distância de um joelho.” A viúva não se intimidava com a recusa do juiz, e nós não devemos nos acomodar com a demora do Senhor.
Oração é o mover de Deus no coração do crente para levá-lo a voltar-se para Ele. Como dizia Matthew Henry, “quando Deus pretende dispensar grandes misericórdias a seu povo, a primeira coisa que faz é inspirá-lo a orar.” A causa da oração é o próprio Deus. Ele nos leva a orar para que nosso coração encontre satisfação nEle mesmo.
A viúva clamava, porque tinha uma causa do seu adversário contra ela. Nós, também, mas devemos orar, porque temos o prazer de estar em comunhão com Aquele que satisfaz cada sentido de nossa existência. Não é tanto a solução de nossas demandas que nos impulsiona ao âmbito da oração, mas a intimidade com o Pai de toda graça.
Gosto deste pensamento de C. H. Spurgeon: “As verdadeiras orações são como pombos-correios que encontram seu caminho com extrema facilidade; elas não podem deixar de ir para o céu, pois é do céu que procedem; estão apenas voltando para o lugar de onde vieram.” Assim o dever de orar sempre se baseia no prazer da comunhão com Deus.
Os problemas e os sofrimentos são instrumentos que a graça se utiliza para nos dar impulso na pista da oração. “Dor e sofrimento não são necessariamente sinais da ira de Deus; podem ser exatamente o contrário,” pois os tempos de sofrimento são épocas de maior aproximação do trono da graça e de maior intimidade com a Trindade.
A parábola da viúva insistente é uma instrução à oração persistente dos filhos de Deus num mundo caído. Contudo, não devemos fazer da oração apenas um acessório para os momentos de tribulações, mas uma prática prazerosa para a nossa existência cristã.
Um dos menores versículos da Bíblia ensina um dos maiores exercício da fé que move os cristãos autênticos. Orai sem cessar. 1 Tessalonicenses 5:17. Assim como nós respiramos sem cessar e, sem nem mesmo perceber, devemos viver em oração, mesmo que não seja sempre consciente. Nós bebemos e comemos de vez em quando, todavia respiramos sempre. Será que poderemos orar sempre assim, sem nunca desistir?
Parece que esta é a instrução dessa parábola: podemos orar com a mente, mas, também, com o espírito. Com a mente temos consciência: com o espírito, persistência. Se oro só com a mente, minhas orações são circunstanciais e temporais. Se oro também no meu espírito, vivo num estado de oração sem cessar. Oremos...