Estudo | Glenio Fonseca Paranaguá - TRÊS PARÁBOLAS DA NOVA DISPENSAÇÃO
![](../content/imgsite/separador-ib.jpg)
TRÊS PARÁBOLAS DA NOVA DISPENSAÇÃO
Algumas pessoas disseram a Jesus: “Os discípulos de João Batista jejuam e oram com frequência, e os discípulos dos fariseus também. Por que os seus vivem comendo e bebendo?” Jesus respondeu: “Por acaso os convidados de um casamento jejuam enquanto festejam com o noivo? Um dia, porém, o noivo lhes será tirado, e então jejuarão.” Lucas 5:33-35. (NVT).
Aqui Jesus foi abordado sobre o jejum, que era enfatizado por João Batista e mais ainda pelos fariseus. Estas pessoas que o interpelaram estavam preocupadas com a falta de observância do jejum, por parte dos discípulos de Jesus. Nesta ocasião Jesus traz à tona três parábolas que elucidam a caducidade do judaísmo e a novidade do cristianismo.
As três parábolas ensinam que uma nova dispensação tinha começado e que não havia a menor possibilidade de misturar o novo com o antigo. A velha estrutura caducou e não tinha mais lugar no plano da revelação. A flor deu lugar ao fruto.
“O Senhor afirmou que não havia razão para Seus discípulos jejuarem enquanto ainda estava com eles. Aqui Ele associa o jejum à tristeza e ao luto. Quando Ele fosse tirado deles, isto é, pela morte na cruz, eles jejuariam como uma expressão de sua dor”.
Não adiante fazer jejum de alimentos se nos alimentamos de preconceitos, além de roermos até os ossos, em nossas reuniões, a vida daquelas pessoas que antipatizamos. A prática do jejum sem misericórdia é mais nociva do que a bulimia.
Na maioria das vezes o jejum, no NT, vem precedido da oração. Esta, sim, é a locomotiva que puxa o vagão da abstinência. Enquanto oramos com a maior intensidade e persistência, deixamos de comer, e assim o jejum se torna um complemento da oração.
Jesus também lhes apresentou a seguinte parábola: “Ninguém rasgaria um pedaço de tecido de uma roupa nova para remendar uma roupa velha. Se o fizesse, estragaria a roupa nova, e o remendo não se ajustaria à roupa velha. Lucas 5:36.
“Na primeira parábola, a roupa antiga fala do sistema legal ou da dispensação da lei, enquanto a nova roupa mostra a era da graça. Elas são incompatíveis entre si. Uma tentativa de misturar lei e graça resulta na deterioração de ambas”.
Um remendo de pano novo em uma roupa velha não combina, além do que, o pano novo acaba estragando ainda mais o tecido velho. J. N. Darby afirmava: “Jesus não adotaria o cristianismo no judaísmo. A carne e a lei andam juntas, mas graça e lei, a justiça de Deus e a do homem, nunca se misturam.” Não há compatibilidade entre elas.
O velho sistema da lei exigia a conduta perfeita do homem velho que era incapaz de cumprir a lei por si mesmo. Por mais que se esforçasse não conseguiria vivê-la. Era uma tentativa em vão e cheia de casuísmos. Não é possível colocar remendo neste tecido, pois “é só pela graça divina que o homem pode obedecer à lei de Deus.”
“E ninguém colocaria vinho novo em velhos recipientes de couro. Os recipientes velhos se arrebentariam, deixando vazar o vinho e estragando o recipiente. Vinho novo deve ser guardado em recipientes novos. Lucas 5:37-38.
A segunda parábola ensina a loucura de colocar vinho novo em odres velhos. A ação fermentadora do novo vinho causa pressão nas peles, que não são mais flexíveis ou elásticas o suficiente para suportar. As peles estouram e o vinho é derramado.
O legalismo produz orgulho no coração. Para Ernest F. Kevan “o legalismo é o mau uso da lei; é confiar na observância dela para ser aceito por Deus; mas a observância orgulhosa da lei não faz parte da graça de Deus.” O odre do legalismo foi descartado aqui.
As formas, ordenanças, tradições e rituais ultrapassados do judaísmo eram de fato rígidos demais para conter a alegria, a exuberância e a energia da nova dispensação. Não há como equalizar o timbre retumbante da exultação, com essa voz rouca e grave dos gemidos e ais advindos da falta de cumprimento da lei.
Por mais esforçado que for o praticante da lei e por mais parecida que for a conduta daquilo que é correto, há uma insatisfação íntima e uma presunção aparente, pois a lei foi dada apenas para revelar o pecado, nunca para justificar o pecador.
O cristianismo aponta para a madrugada da ressurreição com seu canto alegre de aleluia, enquanto o judaísmo embolorado se envolve com um som nostálgico da lei que não é vivida na prática. Este é lúgubre e sombrio. O outro é luminoso e radiante.
O cristianismo nada tem a ver com o judaísmo. Enquanto a religião judaica é um fardo, “a lei divina, como o cristianismo a vê, manifesta liberdade, confere liberdade, é liberdade.” Sim, - a lei exige o que não pode dar; a graça dá tudo o que exige, disse Pascal.
Jesus comparou o cristianismo ao vinho novo que não poderia ser colocado nos odres velhos do judaísmo. Estes recipientes não suportariam a exuberância do Evangelho e, portanto, não havia qualquer possibilidade de conservar o cristianismo verdadeiro neste sistema ultrapassado. Não há lugar para o vinho novo em odres surrados e carcomidos.
O novo vinho é visto neste capítulo nos métodos não convencionais dos quatro homens que trouxeram o paralítico para Jesus. É visto no frescor e zelo de Levi, enquanto os odres velhos retratam a indiferença e o formalismo frio dos fariseus. O ritualismo velho e mofento sempre prepara o solo fértil para a falsa espiritualidade.
A religião arcaica do judaísmo não comportaria a novidade da ressurreição. O gozo da graça não seria tolerada pela estrutura bolorenta das sinagogas. Por isso Jesus vem e descarta a possibilidade de aproveitar as pipas rotas da mentalidade judaizante.
E ninguém que bebe o vinho velho escolhe beber o vinho novo, pois diz: ‘O vinho velho é melhor’. Lucas 5:39.
A terceira parábola afirma que ninguém, bebendo o vinho velho, prefere o novo. Ele diz: “O velho é melhor.” Isso mostra a relutância natural dos homens em abandonar o velho pelo novo, o judaísmo pelo cristianismo, a lei pela graça, as sombras pela substância! Como Darby dizia: "Um homem acostumado a formas, arranjos humanos, religião do pai etc., não gosta do novo princípio e poder do reino".
E foi exatamente isto que aconteceu na história da igreja. Os judaizantes, judeus que se infiltraram no cristianismo, foram os principais antagonistas do vinho novo, pois nunca se conformaram com a mudança do odre e queriam ficar com o vinho velho.
O cristianismo surgiu dentro da botija judaica. O templo de Jerusalém foi o seu primeiro odre, mas depois da morte de Estevão, uma nova perspectiva começou a surgir e um novo modelo de culto apareceu, descartando o estilo embolorado do Sinai.
A tristeza do jejum foi substituída pela alegria da ressurreição e as sombras do passado pela realidade do presente. Jesus Cristo ressuscitado é a vida da igreja e a ceia do Senhor é o banquete da alforria. Somos um povo livre que vive para a liberdade. Então, os judaizantes não podiam suportar e tentavam, por todos os meios, perverter e converter a fé cristã em uma seita judaica com os mesmos trejeitos de sempre.
Agora, com este pano de fundo, o apóstolo Paulo se torna o maior defensor do Evangelho, lutando com todas as armas para escoimar (limpar ou livrar de defeitos) o lixo da antiga mentalidade do culto ultrapassado. A carta aos Gálatas é um libelo contra a cultura que pretendia continuar bebendo o vinho velho, pois dizia: “o vinho velho é melhor”.
Muitos, hoje em dia, também querem tomar do vinho velho e prosseguir na via dos judaizantes, propondo restaurar as festas que apontavam para Cristo e os ritos que não têm mais qualquer significado, uma vez que temos a substância. O Evangelho não pode ser contido em odres velhos, pois Cristo, o vinho novo, rompe com essas paredes esclerosadas da religiosidade de um tempo que já se foi e hoje, Cristo nos satisfaz plenamente.
Quem nasce pode ficar velho, mas quem é velho não pode ficar novo. Tudo neste mundo envelhece, menos a Palavra de Deus e a ressurreição de Cristo. O modelo judaico é roupa velha e odres gastos. O modelo cristão é o da aurora permanente da ressurreição.
Precisamos ser encharcados da realidade de Cristo, uma vez que, só absortos nEle podemos manter o entusiasmo espiritual perpétuo, porque apenas Ele pode suprir a novidade perene. Cristo, o vinho novo, é a nossa suficiência renovadora. Pois todas as coisas vêm dele, existem por meio dele e são para ele. A ele seja toda a glória para sempre! Amém. Romanos 11:36 (NVT).