Estudo | Glenio Fonseca Paranaguá - As Bênçãos da Tentação
As Bênçãos da Tentação
Não é possível um cristão viver neste mundo sem ser tentado. A tentação é algo que nunca devemos estimular, mas que sempre devemos esperar. A tentação faz parte de nossa humanidade e mais especificamente, de nossa vida cristã. Não há cristianismo autêntico sem tentação constante. E quanto mais santa é uma pessoa, mais tentada ela será. As almas mais nobres são as mais tentadas. O diabo é um esportista e aprecia os grandes lances. Nenhum ladrão que se preza, se interessa por bugigangas. Ninharias não fazem parte da estratégia dos grandes assaltos. São as jóias preciosas que exigem os esquemas mais elaborados para furtá-las. Não existe ordem tão sagrada nem lugar tão secreto nos quais não haja tentação. Quanto mais alguém se eleva nos degraus da santidade, mais exposto ficará aos projéteis da tentação. Jesus foi tentado não porque era mau, mas porque era importante. A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Mateus 4:1.
A tentação faz parte da operação do Espírito na nossa vida. Santo Amonas disse com muita propriedade: Se Deus não nos amasse, não nos enviaria tentações. Para os fiéis , a tentação é necessária, pois todos aqueles que estão livres da tentação não se encon-tram entre os eleitos. Nada nos conduz tanto à dependência de Deus como a tentação. Se não houvesse a possibilidade da queda, certamente haveria uma suficiência arrogante que descartaria a dependência de Deus. O Arcebispo François Fenelon afirmava que as tentações são limas que nos livram de grande parte da ferrugem da nossa auto-confiança. Somos motivados à vida confiante em Deus, na medida da nossa fraqueza. Assim, toda tentação é uma oportunidade de nos aproximarmos de Deus. As tentações desvendam o que somos e nos fazem recorrer à soberania da graça de Deus. Então, ele me disse: A minha graça de basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. 2Coríntios 12:9. Nada conduz tanto à verdadeira humildade, como a tentação. Ela nos ensina como somos fracos. E para a fé cristã, somente os fracos são verdadeiramente fortes.
Samuel Rutherford mostrava que a maior tentação provinda do inferno é a de viver sem tentação. Esta arrogância espiritual pretende descartar Deus na autonomia de uma vida tranqüila. Se não temos tentação, também não precisamos sujeitar-nos à vontade de Deus. Sabemos que a tentação não é pecado, mas é um chamado para a batalha da fé. Nós só iremos levantar os olhos para cima, na direção de Deus, quando nos sentirmos carentes de sua ajuda. Assim sendo, minhas tentações sempre me estimulam a buscar a infinita misericórdia de Deus. A tentação é a matéria prima com que são feitos os pavimentos do caminho cristão. Se você nunca for tentado, jamais poderá recorrer à graça de Deus, a fim de poder resistir às investidas permanentes do pecado. Provas e tentações não nos enfraquecem, mas apontam os nossos pontos fracos, de sorte que possamos apelar para a suficiência da graça e deste modo nos fortalecer. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte. 2Coríntios 12:10.
O paradoxo da fé cristã se revela no absurdo lógico de que a fraqueza é o trampolim da força. Não teremos nenhum poder de Deus, a não ser que sejamos convencidos de que não temos nenhum poder em nós mesmos. Nossa fraqueza armazena todo espaço para conter a manifestação do poder de Deus. Alguém já chegou a considerar com muita sabedoria que deve ser todo-poderoso o poder cuja força suficiente é a fraqueza. Somente aquele que se encontra totalmente vazio de si mesmo, pode ser totalmente cheio da plenitude do poder Divino. Nunca podemos desejar a plenitude do poder de Deus até que estejamos convictos de que estamos vazios de nós mesmos, em nossa profunda fraqueza. É aqui que a tentação exerce sua grande operação. Quando somos tentados, manifestamos a nossa grande fraqueza, e deste modo, podemos valer-nos da onipotência de Deus. Toda tentação é uma oportunidade de nos aproximarmos de Deus e dependermos da suficiência de seu poder. Não veio sobre vós tentação, senão humana. E fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis resistir, antes com a tentação dará também o es-cape, para que possais suportar. 1Coríntios 10:13.
Alguém certa ocasião afirmou: Deus promete uma aterrissagem segura, mas não uma viagem tranqüila. Satanás como cozinheiro nunca coloca diante dos homens um prato que eles não apreciem. E como pescador, põe isca em seu anzol de acordo com o apetite do peixe. Nós não somos tentados por sermos terrivelmente maus, mas sim porque somos humanos. Jesus como homem foi tentado à nossa semelhança. Por trás dos nossos desejos humanos se infiltram as tentações mais insinuantes. O melhor dos santos pode ser tentado com o pior dos pecados, dizia Matthew Henry. Ninguém foi vacinado contra as piores tentações nem há qualquer sistema de imunização que impeça seu ataque. Contudo podemos contar com uma realidade poderosa: Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados. Hebreus 2:18. A tentação é sempre uma oportunidade da manifestação poderosa da pessoa suficiente de nosso Senhor Jesus Cristo. Se Deus não removeu a possibilidade da tentação é porque Ele quer nos envolver na dependência do Salvador. Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna. Hebreus 4:15-16.
Por isso mesmo, a tentação nos possibilita a graça da resistência, junto ao trono da graça. A fé cristã não é uma lesma passiva. Não vivemos acuados ou sem alternativas. Não somos meras vítimas de um dragão na boca da caverna. Temos muitas coisas e pessoas que nos conduzem à tentação, mas se as seguirmos, a culpa será nossa. Orar contra a tentação e ao mesmo tempo dar-lhe ocasião é o mesmo que colocar os dedos no fogo e orar para que eles não se queimem. O profeta Eliseu quando foi abordado pelo general Naamã para receber recompensas pela obra da graça, viu que é melhor recusar a isca do que se debater na armadilha, e disse: Tão certo como vive o Senhor, em cuja presença estou, não o aceitarei. Instou Naamã com ele para que o aceitasse, mas ele recusou. 2Reis 5:16. O que torna difícil para nós a resistência à tentação é o fato de que não queremos desencorajá-la totalmente. Muitas vezes ao fugir da tentação damos o nosso novo endereço. Mas, como afirmou Doug Barnett, se você não quer que o diabo o tente com fruto proibido, é melhor sair do pomar dele e não deixe nenhuma pista ou interesse que ele possa reconhecer. Bem-aventurado o homem que suporta a tentação, porque depois de ter passado na prova, receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam. Tiago 1:12.