Estudo | Glenio Fonseca Paranaguá - A PARÁBOLA DOS DOIS SERVOS: O BOM E O MAU
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A PARÁBOLA DOS DOIS SERVOS: O BOM E O MAU
O capítulo 24 de Mateus fala da destruição do templo de Jerusalém, do princípio das dores, da grande tribulação, da segunda vinda do Filho do Homem, da parábola da figueira - exortando à vigilância - e da parábola do servo bom e do mau.
Já vimos aqui a parábola da figueira que detalha a importância da vigilância. Na vida cristã não é prudente dormir de touca. C. H. Spurgeon, no séc 19, sustentava que “a verdadeira conversão dá segurança ao homem, mas não lhe permite cessar de vigiar.” E alguém disse: “as pessoas a quem Deus prometeu salvar, ele prometeu tornar vigilantes.”
Para o teólogo irlandês J. A. Motyer - “Nenhum estágio de experiência exclui a necessidade de vigilância.” O Senhor foi bem enfático: Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o dono da casa: se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã; para que, vindo ele inesperadamente, não vos ache dormindo. O que, porém, vos digo, digo a todos: vigiai! Marcos 13.35-37. A vigilância é essencial ao cultivo da fé.
Em razão de haver muitos animas perigosos na floresta densa, ninguém com bom senso pode andar por ela sem vigilância. Nenhum cristão, em virtude de sua natureza terrena e deste mundo caído, administrado por satanás, pode viver em desatenção.
A parábola da figueira apela à diligência permanente, por isso John Owen, no séc 17, insistia: “Se não vigiarmos atentamente, seremos entregues à traição, às mãos de nossos inimigos espirituais.” Assim o coração que palpita carece do olhar que não cochila.
Depois desta parábola da guarda ininterrupta, o Senhor propõe outra parábola do bom servo e do servo mau. O que o Senhor estava propondo com esta ilustração?
O servo fiel e sensato é aquele a quem seu senhor encarrega de gerir os outros servos da casa e alimentá-los. Se o senhor voltar e constatar que o servo fez um bom trabalho, haverá recompensa. Eu lhes digo a verdade: ele colocará todos os seus bens sob os cuidados desse servo. Mateus 24.45-47 (NVT).
O bom servo ou o servo fiel e sensato é aquele que tem como função alimentar os outros servos com o Pão Celeste. Não se trata de coach ou treinador desenvolvendo dotes e aptidões, mas de copeiro cooperando para alimentar os convidados do banquete.
Na seção final deste capítulo, o Senhor Jesus mostra que o servo fiel manifesta seu verdadeiro caráter pelo modo como se comporta diante do retorno de seu Senhor. Todos os empregados devem alimentar a casa no momento adequado. Mas nem todos os que professam ser servos de Cristo são genuínos e capazes de desempenhar sua tarefa.
O servo sábio é aquele que é encontrado cuidando do povo de Deus. Sua função principal é alimentar o povo com a Palavra de Deus. Tal pessoa será honrada com vasta responsabilidade no reino de Cristo. Então, o Senhor o fará governar todos os seus bens.
Na parábola dos talentos vemos a fórmula de avaliação que é usada no reino de nosso Senhor Jesus Cristo: O senhor disse: ‘Muito bem, meu servo bom e fiel. Você foi fiel na administração dessa quantia pequena, e agora lhe darei muitas outras responsabilidades. Venha celebrar comigo’. Mateus 25.21 (NVT).
O servo bom e fiel é aquele que põe, na mesa da família do Pai, o Pão nosso de cada dia. Não vejo outro maná diário que não venha do céu. Assim Cristo é o alimento que pode satisfazer o Seu povo. Jesus disse: Sim, eu sou o pão da vida! João 6.48 (NVT).
Para Richard Baxter, extraordinário teólogo inglês do Séc 17, “se conseguirmos pregar somente Cristo para nosso povo, teremos pregado tudo a eles.” Precisamos pregar somente Cristo aos pecadores, mesmo que estes não venham a Cristo, e, precisamos pregar apenas Cristo ao Seu povo, para que este se nutra tão-somente de Cristo.
O que acontecerá, porém, se o servo for mau e pensar: ‘Meu senhor não voltará tão cedo’, e começar a espancar os outros servos, a comer e a beber e se embriagar? O senhor desse servo voltará em dia que não se espera e em hora que não se conhece, cortará o servo ao meio e lhe dará o mesmo destino dos hipócritas. Ali haverá choro e ranger de dentes. Mateus 24.48-51 (NVT).
Quem é o servo mau e infiel? Esse servo maligno representa o crente nominal ou aquele em que sua conduta não é afetada pela perspectiva do breve retorno de seu Senhor. Ele age com violência, comendo e bebendo com os devassos deste mundo. Ao invés de dar o alimento para o povo de Deus, eles se alimentam do povo de Deus.
O profeta do Antigo Pacto, falado dos maus pastores de Israel, os ataca de forma contundente, dizendo: Vocês bebem o leite, vestem-se com a lã e abatem os melhores animais, mas deixam seu rebanho passar fome. Ezequiel 34.3 (NVT).
O servo infiel não se interessa em alimentar a povo de Deus, mas se preocupa em se alimentar do povo de Deus. Tal comportamento demonstra que ele nunca faz parte da família de Deus. Este é o tipo do servo que não serve para o reino de Deus, pois só se serve da mesa e não serve a mesa do Senhor com o Pão nosso de cada dia, que é Cristo.
O servo mau não tem fidelidade nem sabedoria, pois se convenceu de que o seu senhor "vai permanecer longe por muito tempo" - talvez uma sugestão sutil aqui seja de que a Parousia ou a segunda vinda de Cristo se atrase. A demora do retorno do Senhor pode ser um dos fatores principais para o surgimento dos falsos mestres.
O apóstolo Pedro esclarece muito bem como essa gente pensa. Acima de tudo, quero alertá-los de que nos últimos dias surgirão escarnecedores que zombarão da verdade e seguirão os próprios desejos, dizendo: “O que houve com a promessa de que ele voltaria? Desde antes do tempo de nossos antepassados, tudo permanece igual, como desde a criação do mundo”. 2 Pedro 3.3-4 (NVT).
O servo iníquo usa o atraso da volta do Senhor para abusar dos crentes carentes e explorá-los, além de lançar uma névoa de conceitos falsos para confundir os incautos. O que ele se esquece é que: Pela mesma palavra, os céus e a terra que agora existem foram reservados para o fogo e estão guardados para o dia do julgamento, quando todos os perversos serão destruídos. Logo, amados, não se esqueçam disto: para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos como um dia. 2 Pedro 3.7-8 (NVT).
O servo perverso, surpreso e despreparado para o retorno de seu Senhor, no fim, será colocado com os "hipócritas", que são considerados os mais vis, neste evangelho, e, neste caso, sua sorte é o maior castigo, como Jesus se referiu, por exemplo, à impenitência e hipocrisia de Cafarnaum. Eu lhe digo que, no dia do juízo, Sodoma será tratada com menos rigor que você”. Mateus 11.24 (NVT).
Quando o Senhor vier, Ele o castigará e designará sua porção com os hipócritas, onde as pessoas choram e rangem os seus dentes. Jesus foi muito claro com respeito aos servos infiéis. No dia do juízo, muitos me dirão: ‘Senhor! Senhor! Não profetizamos em teu nome, não expulsamos demônios em teu nome e não realizamos muitos milagres em teu nome?’. Eu, porém, responderei: ‘Nunca os conheci. Afastem-se de mim, vocês que desobedecem à lei!’. Mateus 7.22-23 (NVT).
“Esta parábola refere-se ao visível retorno de Cristo à Terra como Messias-Rei. Mas o princípio se aplica igualmente ao arrebatamento. Muitos que professam ser cristãos mostram, por sua hostilidade em relação ao povo de Deus e sua confraternização com os ímpios, que eles não estão esperando o retorno de Cristo”.
Vou terminar este estudo citando alguns servos fiéis que esperavam ou esperam pela volta do Senhor. Para Stephen Travis “A esperança cristã (da 2ª vinda de Cristo) não é assunto para agradar nossa mente, mas para transformá-la e influenciar a sociedade.”
G. Campbell Morgan, pastor de pastores, na Inglaterra, no séc 20, disse: “Nunca começo a trabalhar de manhã sem pensar que Ele talvez venha interromper meu trabalho e começar o seu. Não estou esperando a morte - estou esperando por Ele.”
O evangelista de multidões no séc 19, nos Estados Unidos, D. L. Moody, afirmou: “Nunca prego um sermão sem pensar que é possível que o Senhor venha antes de eu ter oportunidade de pregar outro.” E George Whitefield, no séc 18, na Inglaterra, bradava com sua voz de trovão: “Estou diariamente esperando a vinda do Filho de Deus.”
Os servos fiéis são aqueles que têm os seus olhos fitos no Cristo crucificado que um dia retornará para buscar a Sua Noiva e estabelecer o Seu Reino neste mundo. Como São Crisóstomo, dizemos: “No primeiro advento, Deus escondeu sua divindade para provar os fiéis; no segundo advento, ele manifestará sua glória para recompensar-lhes a fé.”