Estudo | Glenio Fonseca Paranaguá - A PARÁBOLA DO PERDÃO NO SEIO DA IGREJA
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A PARÁBOLA DO PERDÃO NO SEIO DA IGREJA
Dr. Martyn Lloyd-Jones disse: “Se realmente conhecemos a Cristo como nosso Salvador, os nossos corações são quebrantados, não podem ser duros, e não podemos negar o perdão.” Isto é verdade, porém, há uma grande batalha nesta área espiritual.
Sabemos que errar é humano, perdoar é divino e ninguém pode viver uma vida sadia mantendo vivo o ressentimento no seu coração. Por menor que seja o azedume, seu cultivo sempre será trágico. Para James Coulter, “o espírito que não perdoa como forma de orgulho é o matador número um da vida espiritual.” Perdoar é como o ar, imprescindível.
Jesus trabalhou o perdão na vida dos seus discípulos de modo bem claro. Se teu irmão pecar [contra ti], vai argui-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Mateus 18:15. Esta é a primeira instância para tratar uma ferida emocional.
Mas, se ele se recusar ouvir? Então, vem à segunda instância. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. Mateus 18:16.
Contudo, se continuar intransigente vem agora à terceira instância. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano. Mateus 18: 17. A igreja é a última instância para se recorrer.
“Se o acusado ainda se recusa a confessar e pedir perdão, o assunto deve ser levado perante a igreja local. É importante notar que a assembleiaé o órgão responsável por ouvir o caso, não um tribunal civil. Os cristãos são proibidos de ir ao tribunal contra outro crente, como nos mostra o apóstolo Paulo em (1 Co 6: 1-8)”.
Quando o rebelde recusa a admitir seu erro perante a igreja, então ele deve ser considerado pagão e cobrador de impostos. O significado mais óbvio dessa expressão é que ele deve ser visto fora da comunhão da igreja. Embora possa ser um crente, não está vivendo como tal e, portanto, deve ser tratado de acordo. Ainda que seja membro da igreja invisível e universal, deverá ser barrado dos privilégios da igreja local.
Tal disciplina é uma ação séria. Temporariamente se oferece o crente ao poder de Satanás "para a destruição da carne, para que seu espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus" (1 Co 5: 5). O propósito disso é trazê-lo aos sentidos e fazê-lo confessar seu pecado.
Até que esse ponto seja alcançado, os crentes devem tratá-lo com cortesia, mas também devem mostrar, pela atitude deles, que não toleram o seu pecado e não podem ter comunhão com ele como um crente. Mas, a assembléia deve estar pronta para recebê-lo de volta, assim que houver evidência de arrependimento sincero e piedoso.
A igreja local é o único fórum para resolver estas questões e Jesus deixou bem evidente que é preciso cuidar com transparência a questão do perdão.
Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra terá sido desligado nos céus. Mateus 18: 18. Aqui Jesus está dizendo que se a igreja em assembleia, no espírito de oração e obediência à Palavra, ligar a ação disciplinar, essa ação será honrada no céu. E quando o disciplinado se arrepender e confessar o seu pecado, então a assembleia o restituirá à comunhão e essa ação também será ratificada por Deus (ver João 20: 23).
Em verdade também vos digo que, se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer coisa que, porventura, pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai, que está nos céus. Mateus 18: 19. Este texto aqui se refere aos tratos que precisamos encarar a questão do perdão. Quando dois começarem a orar sobre a questão da impenitência, podemos ver os céus se movendo para atender.
Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles. Mateus 18: 20. Dr. William Mac Donald sustentava: “O versículo 20 deve ser interpretado à luz do seu contexto. Não se refere principalmente à composição de uma igreja do NT em sua forma mais simples, nem a uma reunião geral de oração, mas a uma reunião em que a igreja busca a reconciliação de dois cristãos separados por algum pecado. Pode legitimamente ser aplicado a todas as reuniões de crentes onde Cristo é o Centro, mas um tipo específico de reunião está em vista aqui”.
Diante disto,então, Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete. Mateus 18: 21-22. Neste ponto, Pedro levantou a questão de quantas vezes deve perdoar um irmão que pecou contra ele, procurando ser generoso.
Provavelmente ele pensou que estivesse mostrando graça incomum, sugerindo 7 vezes como um limite extremo. Jesus respondeu “não… 7 vezes, mas até 70 vezes 7”. Os números foram retirados de episódios na família de Caim, onde este, seria perdoado 7 vezes, mas o seu neto, Lameque, 70 x 7. O que isto quer dizer? Que o perdão é sem limite.
Aí, Jesus conta a parábola do credor incompassivo. Por isso, o reino dos céus é semelhante a um rei que resolveu ajustar contas com os seus servos. Mateus 18:23. O reino dos céus tem um estilo diferente que não permite um espírito implacável para aquele que foi livremente perdoado. A parábola é categórica: quem foi perdoado, perdoa.
E, passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou o senhor que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possuía e que a dívida fosse paga. Então, o servo, prostrando-se reverente, rogou: Sê paciente comigo, e tudo te pagarei. E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida. Mateus 18: 24-27.
A estória diz respeito a um certo rei que queria zerar suas dívidas incobráveis de seus livros. Um servo que lhe devia 10.000 talentos estava insolvente, de modo que seu senhor ordenou que ele e sua família fossem vendidos como escravos em pagamento da dívida. O servo desesperado pediu tempo, prometendo pagar-lhe tudo, se tivesse a chance.
Como muitos devedores, ele era incrivelmente otimista sobre o que poderia fazer se tivesse tempo. Naépoca, na Galileia, ninguém poderia dever mais do que 300 talentos. O detalhe sobre esta quantidade vultosa é intencional. É para chocar os ouvintes e assim captar sua atenção e também para enfatizar uma imensa dívida para com Deus.
Quando o senhor viu a atitude contrita de seu servo, perdoou-lhe os 10.000 talentos. (1 talento = 6.000 denários). Foi uma exibição épica de graça, não de justiça.
Agora vejamos como reagiu o servo. Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem denários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: Paga-me o que me deves. Então, o seu conservo, caindo-lhe aos pés, lhe implorava: Sê paciente comigo, e te pagarei. Ele, entretanto, não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até que saldasse a dívida. Mateus 18: 28-30.
Aquele servo tinha um criado que lhe devia 100 denários. Em vez de perdoá-lo, agarrou-o pela garganta exigindo pagamento integral. O infeliz devedor pediu prorrogação da dívida, mas não adiantou. Foi jogado na prisão até pagar a dívida - um negócio difícil na melhor das hipóteses, já que sua chance de ganhar dinheiro se foi desde que foi preso.
Vendo os seus companheiros o que se havia passado, entristeceram-se muito e foram relatar ao seu senhor tudo que acontecera. Então, o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti? E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida. Mateus 18: 31-34.
Os outros servos, indignados com esse comportamento inconsistente, disseram ao senhor o que aconteceu, ficando este muito furioso com o credor impiedoso. Tendo sido perdoado de uma grande dívida, não estava disposto a perdoar uma ninharia. Então ele foi devolvido à custódia dos carcereiros até que sua dívida fosse paga, tintim por tintim.
Agora vem a conclusão de Jesus. Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão. Mateus 18: 35.
A aplicação é clara. Deus é o rei. Todos os Seus servos haviam contraído uma dívida de pecados que não poderiam pagar. Em maravilhosa graça e compaixão, o Senhor pagou a dívida toda e concedeu perdão pleno e livre. Agora, suponha que alguns cristãos errem uns com os outros. Quando repreendidos pedem perdão. Mas o crente ofendido se recusa. Ele mesmo foi perdoado de uma dívida comparável a 60.000.000 de denários, mas não quer perdoar100. O rei permitirá que tal comportamento fique impune? Não, certamente! O culpado será castigado nesta vida e sofrerá perdas no Tribunal de Cristo.
Talvez os 10.000 talentos estejam falado da conta que Hamã, o agagita, inimigo dos judeus no tempo da rainha Ester, pagou ao rei Assuero para perseguir o povo judeu. (Ester 3: 9). É uma quantia para lembrar o ressentimento do povo judeu. Tanto os números extremos do perdão, como o exagero da dívida apontam para a graça de Deus diante das demandas humanas. Não há lugar para amargura na família Real do céu e “a humanidade nunca é tão bela como quando está orando por perdão ou perdoando os outros.”