Estudo | Glenio Fonseca Paranaguá - A PERSEVERANÇA DOS SANTOS
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A PERSEVERANÇA DOS SANTOS
...mas, não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia.
2 Timóteo 1:12.
Muitos de nós conhecem pessoas que fizeram profissão de fé em Cristo e que até deram forte demonstração de sua fé, envolvendo-se profundamente na vida e ministério da igreja, mas depois repudiaram essa fé e tornaram-se desistentes de sua “devoção”.
Tal evidência sempre levanta a questão; uma pessoa pode salvar a sua salvação? A apostasia é um perigo claro e presente para o crente? Pode um crente verdadeiro voltar as costas para a sua profissão de fé? Um filho legítimo pode deixar de ser filho? Pode o ateu convencido tornar-se um crente ou o crente convicto converter-se num ateu?
“A Igreja Católica Romana ensina que as pessoas podem e perdem sua salvação. Se uma pessoa comete um pecado mortal, esse pecado mata a graça da justificação que habitava na sua alma. Se ele morrer antes de ser restaurado ao estado de graça, através do sacramento da penitência, ele irá para o inferno”. O filho perde assim a filiação.
“Muitos protestantes também acreditam que é possível perder a salvação. As advertências de Hebreus 6 e a preocupação de Paulo sobre tornar-se ‘desqualificado’ em 1 Coríntios 9:27, bem como os exemplos do rei Saul e outros, levaram alguns a concluir que as pessoas podem cair completa e finalmente da graça. Podem, sim, perder a salvação.
“Por outro lado, a teologia reformada ensina a doutrina da perseverança dos santos. Essa doutrina é às vezes chamada de ‘segurança eterna’. Em essência, a doutrina ensina que, se você tem fé salvadora, nunca a perderá e se a ‘perder’ é porque nunca teve”.
Veja o que o apóstolo João escreve: Saíram de nós, mas não eram dos nossos; porque se tivessem sido dos nossos, teriam continuado conosco; mas eles saíram para que eles pudessem se manifestar, que nenhum deles era dos nossos. 1 João 2:19.
Sabemos que é possível acontecer isso: as pessoas podem se enamorar por certos elementos do cristianismo sem, contudo, nunca ter abraçado o próprio Cristo. Tais pessoas podem ser como aquela retratada na parábola do semeador:
Um semeador saiu a semear a sua semente. E quando ele semeava, alguma caiu à beira do caminho; e foi pisada e as aves do céu devoraram. Alguma caiu no terreno rochoso; e assim que algo surgiu, secou porque faltava umidade. E outra caiu entre os espinhos, e os espinhos surgiram e sufocaram. Mas outro caiu em boa terra, surgiu e rendeu uma colheita de cem vezes. Lucas 8: 5-8.
Essa parábola pode se referir àqueles que inicialmente acreditaram, mas depois caíram, significando que tinham uma fé falsa ou espúria, que não tem base de sustentação. É uma crença aparente e não a fé que uma vez por todas foi dada aos santos. (Judas 1:3).
Somente a semente que caiu no solo bom produziu o fruto da obediência. Jesus descreve estes como aqueles que ouvem a palavra com “um coração nobre e bom” (Lucas 8:15). Sua fé procede de um coração verdadeiramente regenerado. Neste caso, se o coração for bom, significa que o Único Bom gerou esse coração bom. Jesus é autor da fé constante.
A doutrina da perseverança não se baseia em nossa capacidade de perseverar, mesmo se formos regenerados. Antes, baseia-se na promessa de Deus de nos tornar de fato perseverantes. Paulo escreve: Tendo confiança nisso mesmo, que aquele que começou uma boa obra em você irá completá-la até o dia de Jesus Cristo. Filipenses 1: 6.
É somente por graça sobre graça que os cristãos perseveram. Deus termina o que começa. Ele assegura que Seus propósitos na eleição não sejam jamais frustrados. Thomas Watson afirmava que “durante algum tempo, Deus pode desertar de seus filhos, mas nunca deserdar os seus filhos”. Ele pode colocá-los num deserto, mas nunca num descarte eterno.
Certo da salvação assegurada pelo próprio Deus, o cristão genuíno não desiste de sua caminhada em meio às maiores pelejas. A perseverança é uma característica de quem foi regenerado pela graça. Mas é preciso não confundir a perseverança com a obstinação de alguns. Elas se parecem, embora a obstinação se firma na vontade férrea de um impetuoso, enquanto a perseverança numa vontade frágil, mas governada pela Vontade do Pai.
A raiz de toda constância está na confiança em Deus e na consagração a Deus. Se confiamos no caráter de Deus e nos consagramos inteiramente a Ele, nada nos impedirá de combater o bom combate até o fim, mesmo que tenhamos algumas quedas pelo caminho.
A corrente de ouro de Romanos 8 dá mais testemunho dessa esperança. Depois de predestiná-los ele os chamou, e depois de chamá-los, os declarou justos, e depois de declará-los justos, lhes deu sua glória. Romanos 8:30 (NVT). E o apóstolo Paulo continua assegurando que nada poderá nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. Romanos 8:39. Isto dá gás ao processo da perseverança.
Nós temos segurança porque a salvação é do Senhor e somos o Seu “artesanato”. Ele dá o Espírito Santo a todo crente como uma promessa de que Ele cumprirá o que Ele começa. Ele também selou cada crente com o Espírito Santo. Ele nos marcou com uma marca indelével e deu o seu pagamento pessoal que garante que Ele terminará a transação.
O Rev. Sérgio Ribeiro Santos afirma: “Esta é uma das doutrinas pilares da fé cristã. Ela nos encoraja para a luta cristã, que nos mostra que o sacrifício de Cristo não foi em vão e que nos conduz a humildade. Através dela descobrimos que todo o mérito é de Cristo Jesus e não nosso. O Senhor nos conclama a perseverarmos até o fim e ele nos dá os meios para isto. Podemos nos fortalecer através da leitura da Bíblia, da oração, da comunhão com nossos irmãos e da santificação”.
Uma base final da confiança é encontrada na obra do Sumo Sacerdócio de Cristo, que intercede por nós. A intercessão de Jesus é fundamental para a perseverança. Assim como Jesus orou pela restauração de Pedro (e não de Judas), Ele ora por nossa restauração quando tropeçamos e caímos. Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles. Hebreus 7:25.
Para o puritano inglês Thomas Brooks, “no último dia, Cristo será responsável por todos os que lhe foram dados; portanto, não precisamos duvidar de que ele certamente empregará todos os poderes da sua Divindade para dar segurança e salvar a todos aqueles de quem deverá prestar contas.” Jesus nunca falhou em sua obra redentora.
Podemos cair por algum tempo, mas nunca por completo e finalmente cair fora. Jesus orou no cenáculo: Enquanto estava com eles no mundo, guardei-os em teu nome. Aqueles que me deste, eu guardo; e nenhum deles se perdeu senão o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura. João 17:12.
Nós somos pessoas caídas e pecadores falidos, todavia, Deus não nos amou por causa de nossa bondade, nem nos lançará fora por causa de nossos fracassos. Se cremos, não haverá perigo de descarte eterno. Como disse John Flavel, “Cristo acabou sua obra por nós? Então não pode haver dúvidas de que ele também acabará sua obra em nós.”
Somente Judas, que era um filho da perdição desde o princípio, cuja profissão de fé era realmente espúria, foi perdido. Aqueles que são verdadeiramente crentes não podem ser arrebatados da mão de Jesus Cristo. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão.João 10:28.
Jesus disse que além de Suas mãos segurarem as Suas ovelhas, as mãos do Pai também estão nessa segurança. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar. João 10:29. E “a razão pela qual nenhum cristão pode ser arrebatado da mão do Pai é que o próprio Pai o colocou ali”, afirma J. Blanchard.
Todos os filhos de Deus têm um seguro eterno, porém não podem se vangloriar de sua segurança. Sabemos, como dizia Thomas Brooks que “as jóias da terra são algumas vezes separadas dos seus donos; as jóias de Cristo, nunca... as jóias da terra algumas vezes se perdem; as jóias de Cristo, nunca... as jóias da terra algumas vezes são roubadas; as jóias de Cristo, nunca!” Contudo, nunca devemos nos gloriar de nossa segurança.
A perseverança dos santos é uma questão de humildade e persistência. De total negação de si mesmo, pela obra da cruz, e constante dependência da graça de Deus. Sendo assim, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, pois “a perseverança dos santos é possível tão-somente por causa da perseverança de Deus,” dizia Oswald Sanders. Aleluia!