Estudo | Glenio Fonseca Paranaguá - ARREPENDENDO-SE ATÉ DO SEU ARREPENDIMENTO
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ARREPENDENDO-SE ATÉ DO SEU ARREPENDIMENTO
Desprezas tu a riqueza da Sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que é a bondade de Deus que te conduz ao arrependimento? Romanos 2:4.
A mensagem de abertura do profeta João Batista, que serviu de arauto a Jesus, foi: Arrependa-se, pois o reino dos céus está próximo. Seu chamado ao arrependimento foi um apelo urgente aos pecadores. Ninguém que se recuse a arrepender-se pode entrar no reino de Deus. O arrependimento é um requisito sine qua non para a salvação.
Nas Escrituras o arrependimento significa “sofrer uma mudança de mente” e esse câmbio de mentalidade, não é uma mera troca de opiniões menores, mas de toda a direção da vida de alguém. Envolve uma mudança radical do pecado, gerando uma atitude de inclinação total em relação à pessoa e obra de Cristo Jesus.
Nessa condição, apenas uma coisa pode nos ajudar: olhar sempre para Jesus Cristo. Arrependimento e humilhação diante dEle e depois continuar firmemente a manter nossos olhos nEle. Robert M'Cheyne dizia: “O brilho do sol é sempre mais doce depois que conhecemos as sombras; você sentirá essa mesma doçura ao voltar-se para Jesus.”
O arrependimento é uma realidade espiritual da nova criatura, assim como o nojo, pelo o podre e fétido, é comum ao ser humano natural e normal. Sempre que Deus dá vida espiritual Ele dá arrependimento para as novas criaturas abominarem o pecado. Se não houver repulsa pelo pecado é porque não há evidência saudável de vida espiritual.
O arrependimento não é a causa do novo nascimento; é, sim,um resultado vivo e real como um fruto da regeneração. Embora o arrependimento comece com a regeneração, é uma atitude e ação que devem ser repetidas em toda vida cristã. Conforme continuamos a cometer transgressões somos chamados a nos arrepender quando convencidos de nosso pecado pelo Espírito Santo, arrependendo-nos até mesmo do próprio arrependimento.
Na vida cristã, o arrependimento não é tanto do que se faz, ainda que isto seja indispensável, mas acima de tudo do que se é, pois ele tem a ver com a rebeldia obstinada e a incredulidade persistente. Precisamos nos arrepender de nossa autodeterminação.
Os teólogos fazem uma distinção entre dois tipos de arrependimento. O primeiro é chamado de attrition, atrição, atrito. O atrito é o tipo aparente ou falso arrependimento. Envolve o remorso causado pelo medo de punição ou pela perda de bênção.
Esse foi o tipo de arrependimento que Esaú demonstrou (Gn 27: 30-46). Ele não se arrependeu porque pecou, mas porque perdeu o direito da primogenitura. Atrito, então, é o arrependimento motivado por uma tentativa de anular o ingresso no inferno ou evitar o castigo que se avizinha. “Nosso orgulho sente desgosto por nossas falhas, e muitas vezes confundimos esse desgosto com o verdadeiro arrependimento”, disse Francois Fenelon.
Alguém falou sobre o falso arrependimento assim: “Muitas pessoas que parecem arrepender-se são como marinheiros que lançam ao mar seus pertences em uma grande tempestade, ansiando novamente por eles quando chegar a bonança.” Isto, porém, é falso.
A contrition ou contrição, por outro lado, é o verdadeiro arrependimento divino. É genuíno. Inclui um profundo pesar por ter ofendido a Deus, sim. A pessoa contrita verdadeiramente confessa aberta e plenamente seu pecado sem tentar desculpá-lo ou justificá-lo. Esse reconhecimento do pecado é associado à disposição de restituir algo a alguém, sempre que houver necessidade e também uma decisão de se afastar do pecado.
É preciso que o penitente renuncie a sua descrença e a sua rebelião. “A idéia de que Deus perdoará o rebelde que não desistiu de sua rebelião é contrária tanto à Escritura quanto ao bom senso”, dizia o sábio A. W. Tozer. Não há arrependimento se não houver abandono do nosso estilo de vida incrédulo e perverso que ofende a santidade de Deus.
“O verdadeiro arrependimento consiste em ficar o coração quebrantado por causa do pecado e de romper com o pecado.” Há contrição real e humilhação envolvendo a vida de quem se arrependeu, bem como, verdadeiro dissabor com a prática do pecado.
Este é o espírito de arrependimento que Davi exibiu na poesia do Salmo 51. Cria em mim um coração puro, ó Deus, e renova um espírito inabalável dentro de mim. . . Os sacrifícios de Deus são um espírito quebrantado, um coração quebrantado e contrito - estes, ó Deus, não desprezarás. Salmo 51:10, 17.
Quando o arrependimento é demonstrado diante do trono de Deus num espírito de verdadeira contrição, Deus sempre promete perdoar-nos e restaurar-nos à comunhão com Ele, realmente: Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de tudo injustiça. 1 João 1: 9.
O teólogo Augusto H. Strong ensinava que “o homem arrepende-se de verdade somente quando aprende que o pecado o tornou incapaz de arrepender-se sem a operação da graça renovadora de Deus,” talvez, por isso, o pregador inglês George Whitfield insistia que nós precisamos até mesmo nos arrepender do nosso arrependimento humano e lavar as nossas lágrimas no bendito sangue de nosso Senhor Jesus Cristo.
Há perigo sutil de orgulhamos do nosso arrependimento pessoal. Pode haver nas entrelinhas uma atitude disfarçada de valorizarmos a nossa contrição. E assim, precisamos nos arrepender de qualquer arrependimento que nos dê a impressão de que fomos salvos porque nos arrependemos, pois, na verdade, só nos arrependemos porque fomos salvos.
O Espírito Santo nos assegura pelo apóstolo Paulo que é Deus quem nos conduz ao arrependimento. Portanto, não se trata de nenhuma postura do homem natural, mas da contrição da nova criatura, uma vez que vem de um coração transformado pela graça.
A fé que recebe a Cristo precisa ser precedida do arrependimento que abandona o pecado, além de rejeitar a autoconfiança. Não há lugar para o velho Adão na família de Abba, por isso precisamos nos arrepender de quem éramos tanto quanto do que fizemos.
O arrependimento é uma concessão divina ao Seu povo por meio da morte e da ressurreição de Cristo Jesus. Foi por através do sacrifício de Cristo que o arrependimento se tornou possível. Deus, porém, com a sua destra, o exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão de pecados. Atos 5:31.
Sabemos que o arrependimento não foi concedido apenas a Israel, mas, também, aos gentios que creram no Senhor Jesus. Vejamos como as Escrituras mostram isto: E, ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida. Atos 11:18.
Inspirar oxigênio é tão necessário para nossa saúde como expirar gás carbônico. Receber a Cristo, pela fé, como nosso Salvador, é tão imprescindível como arrependermo-nos de nossa autoconfiança. Não basta dar crédito a Jesus é preciso desacreditarmos da nossa autoconfiança, autojustificação, autonomia em querer viver uma vida autocentrada.
A regeneração é uma mudança existencial da vida: não mais eu, mas Cristo. E o arrependimento é a mudança da mentalidade, desfocando-se do temporal e centrando-se no permanente: não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas. 2 Coríntios 4:18. É uma nova construção de pensar e de perceber a realidade. Arrepender é imperioso.
Vamos deixar aqui alguns pensamentos sobre a urgência de arrependimento. O teólogo Thomas Adams no século 17 afirmou: “Se deixarmos passar o tempo para nos arrependermos, ficaremos arrependidos para sempre de termos deixado passar o tempo.”
Não brinque com o tempo, pois o nosso é hoje. Thomas Fuller também entendia que “nunca é cedo para se arrepender, porque não se sabe quão depressa pode ser tarde demais.” E Sto. Agostinho pontuou: “ainda que um arrependimento eterno manifeste-se depois desta vida, ele será inútil.” Isto quer dizer que não há escape do inferno ao céu.
C. H. Spurgeon, príncipe dos pregadores, percebia que, “pecado e inferno estão casados, a não ser que o arrependimento anuncie o divórcio.” Portanto, não seja indolente, pois “se o hoje de Deus é cedo demais para teu arrependimento, teu amanhã pode ser tarde demais para que Ele o aceite,” gritava no séc 17 - William Secker aos ouvintes insensatos.
Deus dá Sua vida espiritual e a fé por intermédio da Palavra e o arrependimento através da Sua bondade, afim de que, vivificados, nos arrependamos do pecado, crendo no Senhor Jesus Cristo, pois, “Aquele que prometeu perdão para os que se arrependem, não prometeu arrependimento para os que querem viver no pecado.” Portanto, arrependa-se!