Estudo | Glenio Fonseca Paranaguá - A SALVAÇÃO DA ALMA - 15
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A SALVAÇÃO DA ALMA - 15
Assim diz o Senhor: Ponde-vos à margem no caminho e vede, indagai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por ele e achareis descanso para a vossa alma; mas eles dizem: Não andaremos. Jeremias 6:16.
A Bíblia deve ser interpretada sempre pela bitola de Cristo. O crivo para explicar qualquer texto é verificar a medida da revelação de Cristo que nele estiver, portanto, o bom caminho, na minha visão, é o próprio Cristo, a vereda antiga, o lugar do descanso da alma.
O Pai criou cada ser humano sedento por algo que somente a Trindade pode saciar. O filósofo francês Blaise Pascal chamou isto do vazio no formato de Deus que existe no coração de cada pessoa e, somente Cristo pode preencher. Ou, como propôs Agostinho: "nossas almas permanecem insatisfeitas e inquietas até que encontrem descanso em Ti".
Quando o Espírito Santo regenera alguém, esta pessoa vem para o reino de Deus com seu histórico, suas lembranças e mazelas. Não há amnésia do passado, nem alguém deletou a sua memória. Nascemos de novo, mas não fomos desligados de nossa história. O nosso espírito foi vivificado, todavia, a nossa alma não teve um apagão do seu passado.
A alma sempre traz o seu currículo por trás e este vai além do nascimento físico. Todos nós temos, em nossa vida celular, certas informações genéticas e códigos de dados coletivos que superam os conhecimentos que temos adquirido até agora; bem como, os memorandos da vida uterina. A alma é muito mais complexa do que podemos concebê-la.
Uma vez salvos em nosso espírito, precisamos agora da salvação da nossa alma, e, isto é progressivo e permanente, até termos os nossos corpos glorificados, quando Jesus vier buscar o Seu povo, a Sua igreja triunfante. (Eu fui... estou sendo... e serei salvo).
A salvação da alma propõe, no final das contas, o seu pleno descanso. Por causa do pecado, a nossa alma se tornou o centro da ação humana, e, consequentemente, tornou-se ansiosa e agitada para ter o controle da vida. Temos uma alma inquieta e preocupada com o seu destino, encontrando-se, frequentemente, temerosa com relação ao seu futuro e intimamente cansada de se manter no governo das coisas. Isso é exaustão existencial.
Em razão da descrença de seus compatriotas, Jesus disse, certo dia: Por aquele tempo, exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Mateus 11:25. A salvação da condenação do pecado é um milagre da soberania do Pai.
Segundo A. A. Hodge, séc 19, “a revelação provém do Pai, mediante o Filho, pelo Espírito. A redenção é para o Pai, pelo Filho, mediante o Espírito.” Sendo assim, o homem não consegue encobrir o que Deus revela, e Ele revela aos insignificantes.
A Trindade soberana age soberanamente na obra da salvação do espírito. Jesus foi bem enfático com a sua missão: Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar. Mateus 11:27. Parece que está bem claro, não?
A Trindade oculta-se de meros teólogos, estes puros amantes do saber, e revela-se aos simples teófilos, aqueles que foram feitos amigos de Deus. Mas, essa amizade com Deus pressupõe a obediência sincera, por parte daquele que foi feito amigo de Deus.
C. H. Spurgeon, falando aos seus alunos, disse: “meus queridos amigos, tenham como regra geral que o Espírito de Deus não faz por nós aquilo que nós mesmos podemos fazer.” Fomos feitos amigos de Deus, para fazer a vontade de Deus. Jesus foi no alvo ao afirmar: vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando. João 15:14.
Uma vez salvos, no espírito, somos habilitados a cooperar, realmente, em todo o processo da salvação de nossa alma. Como amigos de Cristo somos chamados a participar no envolvimento de Sua obra, na redenção da nossa alma. Neste caso, vamos ao descanso.
O esforço do crente é no âmbito da confiança. O seu trabalho mais desgastante é perseverar na fé. A vida do justificado pela graça é uma vida por meio da fé. Viver pela fé coloca a alma sempre em dependência da soberania de Deus, que é algo provocante.
Jesus mostrou onde devemos gastar nossa energia. Veja na tradução da Bíblia A Mensagem, em João 6:27-29: Não gastem energia, lutando por comida perecível (como aquela que vocês comeram). Trabalhem pela comida que permanece, comida (esta) que sustenta a vida eterna, comida que o Filho do Homem providencia. Ele e o que ele faz são permanentes, porque têm a garantia de Deus, o Pai. - Então, eles disseram: Muito bem, o que temos de fazer, então, para realizar as obras de Deus? - Jesus respondeu: Confiem naquele que Deus enviou. Se passarem a segui-lo, ele os envolverá na obra de Deus.
A grande luta da alma, no processo da salvação, é crer na Palavra de Deus. Não é fácil ser desconstruído da autoconfiança e confiar apenas no que Deus diz. Há um cântico que mostra Deus dizendo para a nossa alma, assim: - não tenhas sobre ti um só cuidado, qualquer que seja, pois um, somente um, seria muito para ti. É Meu, somente Meu, todo trabalho, e o teu trabalho é descansar em Mim. - Como a alma consegue descansar nEle?
O trabalho para o descanso da alma é hercúleo. Há um grande paradoxo aqui, já que o seu descanso gera um desempenho nela, que a deixa cansada. Abrir mão do agir por conta própria e confiar na ação divina é uma loucura. A alma foi sempre executiva - e agora? Talvez João Calvino tenha razão ao dizer. “Não podemos descansar nas promessas de Deus sem obedecer a seus mandamentos.” E obedecer requer fé. E crer não é tão fácil.
Ainda que a fé seja simples para o espírito, porque ele vê o invisível, não é fácil para a alma acostumada às evidências. Somente pela graça divina é que o ser humano pode obedecer à vontade divina. Aqui reside a grande luta entre o homem interior e o exterior.
Esta batalha é exaustiva ao extremo e precisamos de perseverança. Portanto, não olhamos para aquilo que agora podemos ver; em vez disso, fixamos o olhar naquilo que não se pode ver. Pois as coisas que agora vemos logo passarão, mas as que não podemos ver durarão para sempre. 2 Coríntios 4:18.
Entrar no descanso não significa ausência de esforço, mas ausência de ansiedade quanto ao comando. Antes a alma exercia o controle das suas ações, mas agora ela age sob o comando da ação do Espírito Santo, de dentro para fora. Antes ela se auto-dirigia, agora ela é dirigida pelo poder do alto, que reside no espírito vivificado.
A alma foi sempre o capitão do navio e nunca se conforma em ser o estafeta. O nosso cansaço vem sempre de nossa alma executiva, que pretende continuar no comando. Orar é mais complicado do que trabalhar. Esperar no Senhor é mais difícil do que agir. E o descanso da alma é uma batalha gigantesca e extenuante, por isso o povo de Israel nunca entrou no descanso. O Senhor os convidou ao sossego, mas eles rejeitaram.
O povo de Israel entrou em Canaã, mas nunca entrou no descanso. Entrou na terra prometida, contudo jamais entrou no repouso. Ora, se Josué lhes houvesse dado descanso, não falaria, posteriormente, a respeito de outro dia. Portanto, resta um repouso para o povo de Deus.Hebreus 4:8-9. Este repouso é Cristo.
A Palavra diz que este povo não transpôs o perímetro da quietude espiritual, por causa da ausência do exercício da fé, e nós, que nos dizemos crentes, corremos o mesmo risco deles. Porque também a nós foram anunciadas as boas-novas, como se deu com eles; mas a palavra que ouviram não lhes aproveitou, visto não ter sido acompanhada pela fé naqueles que a ouviram. Hebreus 4:2.
O descanso da alma é a real dependência de Cristo em nosso espírito. “A pressa destrói o descanso; o ritmo rápido, a paz,” mas, esperar com paciência pela ação do Senhor é, ao mesmo tempo, o início do descanso e o mover da agitação da alma. Aqui precisamos da ação do Espírito Santo nos levando ao quebrantamento, para podermos aquietar.
O Espírito convence o pecador a crer em Jesus, mas, também, precisa convencer o santo a entrar no descanso. Ele convence o incrédulo a crer, estando ainda do lado de fora, todavia, ao convencer o crente a entrar no descanso, age do lado de dentro, gerando sadia obediência, depois de levá-lo ao fim de si mesmo. O seu convite aos exaustos é:Tomem sobre vocês o meu jugo. Deixem que eu lhes ensine, pois sou manso e humilde de coração, e encontrarão descanso para a alma. Mateus 11:29. Amém.