Estudo | Glenio Fonseca Paranaguá - A SALVAÇÃO DA ALMA - 14
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A SALVAÇÃO DA ALMA - 14
Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-la-á.Mateus 10:39.
A palavra aqui traduzida como vida, neste texto, é psique (no grego ψυχη) - que pode ser descrita como alma ou vida. É a vida da alma, a vida psicológica do ser humano ou a vida da pessoa, da personalidade, vida que está no sangue, segundo a Bíblia.
Corpo e alma fazem parte da natureza terrena caída. O corpo é movido a sangue e este a ar, água e alimento. A vida bios regula as células que, alimentadas pelo transporte sanguíneo, corroboram com a ordem funcional, todavia, a vida da alma é que dá valor e significado à existência humana, e esta vida, também, está no sangue.
Portanto, o sangue é o elemento principal no desenvolvimento da vida bios, bem como na expressão da vida psique. Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma, porquanto é o sangue que fará expiação em virtude da vida. Levítico 17:11. (Ou da alma)
Corpo sem sangue é cadáver. Corpo com sangue, mas, sem a mente, a vontade e as emoções funcionando é estado comatoso. A alma precisa de sangue e ordem física para se manifestar. Mas, a alma encontra-se dominada pela pretensão de ser como Deus. Há uma espécie de vírus de altar e onipotência correndo nas veias do ser humano caído.
Neste caso, o homem precisa passar por uma reconstrução total. Temos visto por aqui, nestes estudos, que fomos criados tricotômicos, mas por causa do pecado, o espírito foi desligado de Deus e nos tornamos dicotômicos, sob o governo da uma alma prepotente.
A alma desterrada do Éden é soberba e busca, por todos os meios, ser o centro do planeta, quiçá do cosmos em sua síndrome de onipotência, denominada de teomania. É bem possível que o texto que estamos examinando fale aqui da salvação desta alma altiva.
Talvez possamos fazer uma versão deste versículo assim: aquele que se achar o tal, com a vida da sua própria alma, com certeza vai se perder, mas aquele que abdicar da vida da sua alma, por minha causa, tem toda a condição de perceber-se adequado.
A questão é: como essa alma ensoberbecida, cheia de si, pode querer abdicar de sua autossuficiência? Só se houver um milagre. Felizmente o milagre existe na vivificação do espírito ou na regeneração dos eleitos de Deus. Só a nova criatura tem as condições, da graça divina, para negar-se a si mesma. Só o crente em Cristo pode abdicar-se de si.
O discípulo de Cristo é alguém que decidiu segui-lo, negando a si mesmos e levando a sua cruz diariamente. Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Mateus 16:24. E isto só será possível, porque houve a morte do velho homem, na cruz, com Cristo.
O ser humano se tornou pecador quando comeu do fruto proibido e a morte veio ao seu espírito, no Éden. Sem vida espiritual, a alma assume o comando e surge algo, um princípio de hostilidade, denominado na Bíblia, de velho homem, o executivo do pecado.
Este executivo a serviço do egoísmo humano governa os impulsos da alma em discórdia, desobediência, orgulho, mentira, ódio, ciúmes e tudo que vá de encontro à boa e saudável filiação do genro humano com Deus. Esta é uma cultura anti-cristã de rebeldia e inimizade à graça de Deus. O velho homem é inimigo de Deus e contrário ao Evangelho.
Assim, quando Jesus foi à cruz, como o substituto perfeito em favor dos Seus, Ele os incluiu em Seu corpo, para que estes participassem da Sua morte para o pecado, e, deste modo, tivessem o velho homem, o servo do pecado, crucificado com Ele.
Uma vez que nossa união com Cristo se assemelhou à sua morte, assim também nossa ressurreição é semelhante à dEle. Sabemos que nosso velho homem foi crucificado com Cristo, para que o pecado não tivesse mais poder sobre nossa alma e dele deixássemos de ser escravos. Pois, mortos com Cristo, ficamos libertos da condenação do pecado e, assim, não terá mais o pecado domínio sobre os que foram justificados. Romanos 6:5-7. (Paráfrase).
Agradeço-te Pai, pois o que quer que seja o meu velho homem, ele foi crucificado com Cristo na cruz. Seja o que for, ciúme, orgulho, pensamentos imundos, mente errante, preocupação ou desejos carnais - Cristo pôde me livrar de tudo isso. Louve-te Senhor!
Contudo, eu vejo que ainda tenho muita dificuldade com o pecado que reina no mundo, bem como, com a minha alma com sua história caída e lembranças ardidas. Talvez seja isto que Jesus esteja se referindo com o perder a vida. Vamos dar uma olhada.
Quando o Senhor disse: Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. Mateus 10:34. Que tipo de espada é esta? Não creio que Ele estivesse se referindo a um armamento bélico, nem que as lutas seriam ganhas se eu fosse capaz de matar e vencer o adversário. Creio que há algo mais profundo nesta estratégia.
Ao falar que os inimigos do homem serão os da própria casa e que Ele veio causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra, Mateus 10:35-36, Jesus estava apontando para a guerra das almas, em face de alguns familiares O terem recebido como Salvador e Senhor de suas vidas.
Neste caso, aqueles que quiserem vencer a batalha em seu viver têm que perder a vida da sua alma e, para tanto, tinham que experimentar o golpe da espada em sua própria alma. Teriam que morrer. É isto que me parece ter acontecido naquela última estocada do soldado, quando lancetou o corpo de Jesus na cruz do Calvário. Mas um dos soldados lhe abriu o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água.João 19:34.
Jesus não estava morrendo na cruz isoladamente. Ele morria uma morte coletiva e compartilhado com Seu povo eleito desde a eternidade. Era uma morte solidária em que a espada traspassaria Sua alma, e, consequentemente, a alma de todos aqueles por quem Ele estava morrendo na cruz. O que aconteceu com Ele acontece com os que creem.
A meu ver foi o que Simeão profetizou: Eis que este menino está destinado tanto para ruína como para levantamento de muitos em Israel e para ser alvo de contradição (também uma espada traspassará a tua própria alma), para que se manifestem os pensamentos de muitos corações. Lucas 2:34-35.
Jesus morreu em favor do Israel de Deus composto por gente de todas as tribos, povos e nações. Os efeitos de Sua morte estão partilhados com todos os crentes, por todo lugar e em todos os tempos. O golpe que traspassou a sua alma tinha a ver com a exposição dos pensamentos de muitos. O sangue derramado foi dEle, os corações abertos são nossos.
Creio que o velho homem de todo aquele que crê em Jesus já foi crucificado, mas é preciso que este que crê, leve o morrer de Jesus, em seu corpo sempre e por todo lugar. O crente é um parceiro da morte de Jesus e a salvação da sua alma se efetua pela condução deste morrer diário, em seu modo de viver. C. S. Lewis disse: “morra antes de morrer. Não há nenhuma chance depois”. Talvez seja melhor: creia que você já morreu antes de morrer.
Posso dizer, sem receio de incoerência, que eu já morri com Cristo, mas também, preciso levar o morrer de Jesus, em minha alma, para que a Sua vida se manifeste em meu modo de viver, diariamente. As duas experiências são indispensáveis, uma vez que já foi salvo, em meu espírito, da condenação do pecado, mas ainda estou sendo salvo, em minha alma, do poder do pecado, portanto, devo crer, dia a dia, no morrer da minha alma na cruz.
Gosto muito deste raciocínio de A. W. Tozer: O recém-convertido é semelhante a um homem que aprendeu a dirigir em um país cujo tráfego orienta-se pelo lado esquerdo da rodovia e repentinamente encontra-se em outro país, forçado a dirigir à direita. Ele precisa desaprender o velho hábito e aprender o novo e, o que é mais sério, precisa aprender isso no meio do trânsito pesado.” Negar-se a si mesmo e viver a vida de Cristo!
Alguém me perguntou - como posso saber que a minha alma está sendo salva? Vou apenas ressaltar isto que estou chamando de teste da alma em processo de salvação.
A alma precisa deste teste radical dia a dia. Pois perder a vida da alma implica em levar a cruz por causa de Cristo, diariamente. Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim; e quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim. Mateus 10:37-38. Se estivermos sendo salvos na alma estaremos nos desapegando de tudo o que for provisória e nos apegando a tudo é permanente.
Portanto, não estamos desistindo. Como poderíamos? Ainda que por fora pareça que tudo está se acabando, por dentro, onde Deus está criando a nova vida, não há um só dia em que sua graça reveladora não se manifeste. Os tempos difíceis nada são comparados com os bons tempos que estão por vir, a celebração sem fim preparada para nós. Há muito mais do que podemos ver. As coisas que agora vemos estão aqui hoje, mas desaparecerão amanhã. Mas as coisas que não vemos agora irão durar para sempre. 2 Coríntios 4:16-18. Bíblia A Mensagem.
Quando a Palavra de Deus, a espada do Espírito, separa a alma do espírito, uma nova realidade se instaura progressivamente e até os pensamentos mais ocultos do nosso ser vêm à tona, desentulhando todo lixo de nossa história. Este processo dinâmico tem a ver com a salvação da alma, que vai até à maturidade de Cristo. Louvado seja o Senhor!