Estudo | Glenio Fonseca Paranaguá - A SALVAÇÃO DA ALMA - 7
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A SALVAÇÃO DA ALMA - 7
Salva-me, ó Deus, porque as águas me sobem até à alma. Salmos 69:1
Este salmo fala dos sofrimentos do Messias ante o terror da morte. É uma figura do Seu batismo na cruz, focalizando a salvação da alma e a libertação de um povo que Ele veio assumir do meio desta humanidade caída e separada de Deus, por causa da arrogância do pecado. É algo que transcende os limites da compreensão humana.
O clamor de Jesus no Getsêmani tem tudo a ver com um grito sufocado da sua alma em profunda tristeza ou angústia existencial. Como disse John Trapp: “O Filho de Deus viveu sem pecado, mas não sem tristezas.” Então, lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai comigo. Mateus 26:38. Aqui Jesus vivia a sua grande depressão ao assumir o pecado do seu povo.
A alma pós-pecado é uma entidade destituída de comunhão com o seu Criador e que vive criando meios para tentar satisfazer o vazio de identidade, que passou a existir em seu interior. A morte do Messias fala da conquista sobre o poder da morte e a libertação da alma escravizada pelos efeitos ensoberbecidos da rebeldia edênica, cultivada com ardis.
No processo da revelação bíblica há um fato bem instigante. Ao falar do aumento da linhagem dos homens, que creio seja a descendência de Caim, houve uma miscigenação dos filhos de Deus com as filhas dos homens ou um casamento de duas linhagens: vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, tomaram para si mulheres, as que, entre todas, mais lhes agradaram. Gênesis 6:2.
Sei que o texto tem sido interpretado com outras vertentes, mas, para mim, isto se trata do casamento dos descendentes de Sete, a família do filhos de Deus, com algumas mulheres descendentes de Caim, a família dos filhos dos homens. Vejo aqui um casamento misto e a mistura de duas culturas, gerando uma espécie de gigantes físicos e psíquicos.
Este cruzamento fez surgir um tipo, definido pela palavra hebraica gibbowr, que é traduzida por valente ou poderoso. Este tipo não desapareceu no dilúvio, pois o vemos outra vez na descendência de Cão, encarnado em Ninrode, um caçador diante do Senhor.
O que alguém poderia caçar diante do Senhor? Não me parece que seriam leões ou elefantes, mas almas. A grande caçada do humanismo é por almas vinculadas à cultura anti-Cristo, que busca a entronização do ser humano ao panteão da serpente teomânica. Aqui reside uma pista que dá origem aos pódios, palanques, palcos, plataformas e púlpitos.
Os caçadores de almas são alpinistas do poder, arquitetos de pirâmides, torres e de tudo que os eleve e os notabilize. Esta cultura sutil da meritocracia tem sido a disciplina das elites nos cursos de pós-doutorado na captura das almas carentes. Toda criança nasce caída e vazia de significado neste mundo, mas aspirando aos cumes, topos e cúpulas.
Todos nós desembarcamos na terra com uma inclinação ao trono e ao cultivo dos altares, facultando o ingresso imediato dos bebês aos cursos de dominadores do planeta. A vida na terra é governada por ambições cósmicas e a alma vive construindo plataformas de lançamento para se atirar como pipa em busca dos lugares altos e, deste modo, tornar-se, de alguma forma visível e notável na arquibancada do seu show bizarro de ser como Deus.
A alma poderosa é fruto da proposta da serpente e da altivez cultural ninrodiana do zigurate, que investe na ascendência hierárquica e na celebridade humana. Nossa alma se inquieta pela ideia de grandeza, notoriedade, importância e poder.
Somos uma raça caída, mas caiada. Somos pó, rastejando no pó e ambicionando o céu. Somos alimento de serpente vivendo a mitomania da idealização. Fingimos ser o que jamais fomos e vivemos na hipótese apolínea da perfeição. Somos sapos enlameados com a pretensão de viver como príncipes encantados. Isto é um conto de fadas da alma altiva.
Foi bem aqui neste pântano lamacento das ambições elevadas que Cristo Jesus se encarnou. Estou atolado em profundo lamaçal, que não dá pé; estou nas profundezas das águas, e a corrente me submerge. Salmos 69:2. O que Ele está fazendo neste mundo caído e depravado? Veio salvar almas ensoberbecidas pelo pecado.
A geração das almas iludidas, narcísicas e alucinadas tem se afogado no poço da imaginação, contemplando sua imagem idealizada. O egoísmo asfixiante vem atolando na lama do barro cada alma que nasce neste mundo governado pela cultura do alpinismo, mas Deus, em sua graça, decidiu salvar um povo exclusivamente Seu, zeloso de boas obras.
Então, Jesus se encarna num barro lamacento e toma a causa destes pigmeus terrenos, administrados pela morte, mas com alma de gigante, e vai, voluntariamente, até a cruz para desfazer todo o processo de envenenamento da serpente. A morte de Jesus tem o poder de vencer o poder da morte e desintoxicar do veneno de altar, as almas do Seu povo.
O ser humano criado tricotômico: corpo, espírito e alma acabou dicotômico com a queda. O espírito foi desconectado do Criador e a alma atolada, no corpo barrento, aspira ao pódio em sua epopeia de divinização... como Deus sereis... serei Deus... sou Deus.
Jesus vai até à cruz e desfaz o encantamento da cobra, anulando o poder sutil da morte e, em seguida, da sua tumba escancarada, dá vida ao espírito morto, habitando nele por meio do Espírito Santo. Com esta vivificação espiritual, a Trindade inicia, na história, a salvação de um povo que foi projetada por Ela na eternidade.
Alguém já disse: “a graça está especialmente associada com os homens em seus pecados; a misericórdia está geralmente associada com os homens em sua miséria,” e Sto. Agostinho procura trazer luz a este quadro trágico: “a graça de Deus não encontra homens aptos para a salvação, mas torna-os aptos a recebê-la.”
O apóstolo Paulo vê esta fase assim: Vocês, porém, não estão na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vocês. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. Romanos 8:9. Se já fomos regenerados, o Espírito Santo tem seu endereço no nosso espírito. O problema é este: alma e corpo ainda estão sob os efeitos da queda e precisam de salvação de dentro para fora.
Agora, há algo interessante aqui nesta vivificação. Vejamos: Se, porém, Cristo está em vocês, o corpo, na verdade, é algo mortal por causa do pecado, mas o espírito é vida, por causa da justiça. Romanos 8:10. O corpo que é o vaso de barro da alma, encontra-se ainda sob o domínio da morte. Aliás, o corpo sem alma é cadáver.
Mas a questão vai mais adiante. Se habita em vocês o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o seu corpo mortal, por meio do seu Espírito, que habita em vocês. Romanos 8:11. Aqui vemos o Espírito Santo em sua habitação, em nosso espírito, salvando o corpo mortal, isto é, a psique e o soma. Nós já vimos que corpo (soma) sem a alma (psique) é um cadáver ou defunto.
A salvação da psique é um processo permanente, onde o Espírito Santo age e a alma encarnada reage voluntariamente em viva obediência. Não se trata de uma ação unilateral, como no caso da vivificação do espírito, mas numa coparticipação do crente, espiritualmente salvo, com o Espírito Santo de Deus, no propósito da purificação de todo o lixo acumulado na memória de sua alma em todo o tempo de sua história.
D. W. Dyer, no seu livro, De Glória em Glória, diz: “Como voce^ ja´ deve ter suposto, este processo conti´nuo de salvac¸a~o e´ algo que esta´ acontecendo em nossa ‘segunda parte’, nossa alma. Quando nascemos de novo, nossa ‘primeira parte’, nosso espi´rito, e´ salvo. No futuro, quando Jesus voltar em glo´ria, nossa ‘terceira parte’, nosso corpo, sera´ salvo. Mas hoje, Deus esta´ fazendo um trabalho conti´nuo em nossa ‘segunda parte’, nossa alma.” E esta etapa é sinérgica, isto é: Deus e o crente trabalham juntos.
Nós podemos ver como este processo se desenvolve na vida cristã, nesta versão: Portanto, meus irmãos, nós temos uma atribuição, que é a de não vivermos de acordo com a nossa natureza humana caída. Porque, se vivermos de acordo com esta natureza, estaremos dominados pelos efeitos da morte; mas, se pelo Espírito Santo, nós mortificarmos os feitos pecaminosos, com toda certeza, viveremos espiritualmente sadios em Cristo. Romanos 8:13-14.
“O plano de Deus e´ substituir, pouco a pouco, nossa vida terrena e corrupta por Sua gloriosa Vida eterna. Isto e´ o que o termo “a salvac¸a~o da alma” quer dizer”. Fui salvo no meu espírito, estou sendo salvo na minha alma e serei salvo no meu corpo. Amem. </