Estudo | Glenio Fonseca Paranaguá - A SALVAÇÃO DA ALMA - 5
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A SALVAÇÃO DA ALMA - 5
E minha alma se regozijará no Senhor e se deleitará na sua salvação. Salmos 35.9
Deus criou o mundo do nada e do nada fez tudo o que existe, embora tudo o que existe nada venha a acrescentar ao Seu eterno e soberano ser. O nada para Ele foi o tudo de sua criação, mas o tudo da criação continua sendo nada diante de tudo que Ele é.
Deus não precisa de nada e de ninguém para fazer tudo que Ele quiser. Ele criou do nada o universo e do pó da terra fez o ser humano à sua imagem e semelhança. Deus é o Criador de tudo e nada, nem ninguém pode impedir aquilo que Ele quiser fazer. O vidente via assim: ainda antes que houvesse dia, eu era; e nenhum há que possa livrar alguém das minhas mãos; agindo eu, quem o impedirá? Isaías 43:13.
A Trindade fez o ser humano do pó da terra e soprou nas suas narinas o fôlego das vidas e ele foi feito uma alma vivente. Temos visto aqui nestes estudos sobre a salvação da alma, que o homem foi criado tricotômico, corpo, espírito e alma, mas por causa do seu pecado ele acabou se tornando dicotômico, separado de Deus em razão da morte espiritual.
O apóstolo Paulo mostra este fato com as seguintes palavras: Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. 1 Coríntios 2:14. O termo natural, no grego, é ψυχικος, isto é, psíquico, anímico, almático - governado pela alma que jamais poderá compreender as realidades espirituais.
Somos uma raça caída e incapaz de ter comunhão com Deus por nós mesmos. O ser humano natural vive por suas capacidades biológicas e psicológicas, podendo se tornar uma pessoa digna, moralmente, e com grande instrução, mas, espiritualmente morta.
O bebê nasce neste mundo com um corpo e uma alma caídos e embrionários e requer alimento, cuidado e educação para que se desenvolva como ser humano. Todavia ele não tem vida espiritual em si mesmo. O ser humano natural encontra-se desprovido, totalmente, de vida espiritual. A raça adâmica está desconectada da comunhão com Deus.
A existência humana caída se manifesta através dum sujeito rebelde, incrédulo, depravado, egoísta e sem a menor inclinação para a pessoa de Deus. Só depois do milagre da vivificação espiritual ou do novo nascimento, o espírito pode ser reconectado à Deus e gozar da vida divina em sua existência humana. Agora temos um ser humano outra vez tricotômico e capaz de reagir espiritualmente para o processo da salvação de sua alma.
Quando o Espírito Santo vem habitar em nosso espírito vivificado, inicia-se uma fase nova em nosso ser: a salvação progressiva de nossa alma. A vida e o poder do Espírito que vivem em nosso espírito começam a limpar nossa alma de todo o lixo e curar as feridas e traumas que marcaram a nossa história. Aqui acontece algo muito especial: o Espírito de Deus age e o crente reage em submissão e obediência cada vez mais prazeirosas.
A salvação da alma ou “o crescimento espiritual rumo à maturidade é obra de Deus, do começo ao fim, e a glória deverá ser somente dEle. O mesmo Deus que do nada criou o universo e que pode contar os fios de cabelo de sua cabeça, agirá em sua vida do modo que lhe aprouver em todas as coisas,” e lhe fará reagir voluntariamente.
Vejamos como o apóstolo Paulo entendia este processo progressivo da graça: assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade. Filipenses 2:12-13.
A boa vontade do Espírito Santo faz com que a nossa vontade fraca e indisposta queira, também, fazer a vontade de Deus, de boa vontade. A. W. Pink disse: “O Espírito Santo faz algo mais em cada um dos eleitos de Deus do que faz nos não-eleitos. Ele opera neles ‘tanto o querer como o realizar segundo a sua boa vontade’.”
A eleição do crente só pode ser entendida pela salvação da alma e esta pelo vigor da santidade de Deus. Sem a santificação em nossa alma, ninguém verá o Senhor e sem a obra do Senhor, em nossa alma, ninguém verá a santificação.
Se a Trindade veio viver em nosso espírito e se o Espírito Santo se manifesta em nossa alma, então o poder de Deus vem nos capacitar a fazer de boa vontade a Sua vontade e, neste caso, crescer em graça sobre graça neste processo da varonilidade de Cristo.
Louve a Deus por sua graça plena! Ao contrário do senso comum, o crescimento espiritual não depende de nossa obediência pessoal em si mesmo, mas a nossa obediência pessoal depende da operação da graça de Deus agindo em nós. Creio que hoje eu estou tão maduro, quanto a graça me tem possibilitado estar, mas isto não significa que eu esteja tão maduro, quanto a graça ainda irá me levar, pois é pela graça que eu sou o que sou.
Há um entendimento errado que pode nos levar a muita ansiedade se tentarmos prover a santidade espiritual a partir do nosso esforço pessoal, esquecendo que na fé cristã, tanto o querer como o realizar vem pelo mover da graça de Deus.
Cremos que a vida cristã começa com a vivificação espiritual operada pela graça soberana do Senhor, por meio do Espírito Santo. Cremos que a santificação se processa pela vida ressurrecta do Senhor, desenvolvida em nós pelo poder Espírito Santo. Cremos que este processo de desenvolvimento da vida espiritual é um dom da graça que nos motiva, de um modo prazeiroso a corresponder, voluntariamente, a vontade do Senhor.
Mas quero que fique bem claro. O nosso crescimento espiritual não quer dizer a mínima passividade de nossa parte, e, por outro lado, nenhum ativismo da carne. É a ação do Espírito Santo correspondida por uma reação voluntária e deliberada do crente.
Não há vida espiritual sem o novo nascimento realizado unilateralmente pela Trindade divina, bem como não há santificação sem o agir responsivo do crente. Sabemos que já passamos da morte para a vida porque amamos ao Senhor, os irmãos e há o anseio da santidade de Cristo em nosso modo de andar, mesmo que ainda seja algo incipiente.
Este processo de santificação ou salvação da alma não é peso, obrigação ou uma imposição divina, mas alegria de viver segundo a vontade do Pai. O processo normalmente é lento, embora progressivo e irreversível, pois trata-se duma obra financiada e sustentada pelo Senhor. Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus. Filipenses 1:6.
O crescimento espiritual ou a salvação da alma, ainda que seja visível, consiste mais no crescimento da raiz que está fora do alcance da vista, do que no crescimento da copa que pode ser percebida pelos observadores. Um dos perigos daquilo que é visto é o orgulho que gera, quando o crente é elogiado pelo seu progresso na fé.
Precisamos avançar em nossa vida espiritual, mas precisamos avançar mais fora dos holofotes e dos aplausos. A santificação é sempre progressiva, mas sempre desapegada à louvação dos outros. Quem busca admirador acaba perdendo a sua função de adorador. O crescimento espiritual é antes de tudo diante do trono de Deus.
Gosto muito deste pensamento de A. W. Pink: “assim como a desesperança do pecador de receber qualquer ajuda de si mesmo é o primeiro requisito para uma conversão real, também a perda de toda confiança em si mesmo é o principal fator para o crescimento do crente na graça.” Aqui não há lugar para autoconfiança e autoestima.
Para Thomas Watson: “um cristão adequado não é como o sol de Ezequias, que recuou, nem como o sol de Josué, que permaneceu imóvel, mas como aquele que está sempre avançando em santidade e elevando-se no crescimento de Deus.” Crescer em Deus é crescer na graça e no descanso da suficiência de Cristo.
Jesus foi categórico neste ponto da vida cristã: tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Mateus 11:29. A salvação da alma é, portanto, o repousa no sacrifício de Cristo. O jugo onde Jesus e o pecador estiveram unidos foi a cruz, logo, é da nossa morte na cruz que advém a certeza de que Cristo é nossa nova vida, na ressurreição.
Esta substituição da vida da alma (psique) pela vida da ressurreição (zoe) é que advém o processo progressivo da salvação da alma. Assim, o crescimento espiritual não é o produto do esforço psíquico, mas da manifestação da vida de Cristo.
Por isso, “a maneira correta de crescer é crescer menos aos seus próprios olhos” e crescer sempre para a glória de Deus. Aquele que nasceu de novo cresce em santidade.