Estudo | Glenio Fonseca Paranaguá - Art. 15. ACERCA DO DIA DE DESCANSO CRISTÃO
Art. 15. ACERCA DO DIA DE DESCANSO CRISTÃO
Veja, até o Deus que nunca se cansa, descansou. E havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito.Gênesis 2:2. É lógico que este descanso, aqui, nada tem a ver com a fadiga dEle, pois Ele jamais se exaure; mas com o término de Sua obra. Tudo estava pronto.
Porém, o Deus que nunca se esgota estabeleceu um dia de vacância para Seu povo. Conhecendo a natureza humana e sua ambição, o Senhor demarcou um dia de ócio para quebrar aquele ímpeto agressivo do negócio e trazer o Seu povo à quietude e à comunhão mais intensa com Ele. O descanso sabático na lei foi projetado depois de seis dias de labuta, em virtude do cansaço e do suor que escorre do rosto.
O suor é um sinal da queda e o sábado, período designado na Antiga Aliança, a fim de tratar com este problema real do exagero trabalhista, bem como da conservação saudável e do equilíbrio pessoal. Deus colocou o descanso no fim da empreitada.
O sossego no fim da semana e a aposentadoria no fim da vida apontam para o desempenho pessoal e a meritocracia do executivo. No regime da lei as coisas funcionam assim: primeiro se faz a tarefa, depois se goza a tranquilidade. A questão é compreender a mudança de paradigma; o último dia é substituído pelo primeiro.
Isto é muito importante. No Pacto Antigo se trabalhava para descansar, mas no Novo Pacto se descansa para trabalhar. Antes, o sábado era uma conquista que exigia o esforço, agora, o domingo é um dom que nos levar a fazer as coisas com prazer.
(1) Cremos que o primeiro dia da semana é o Dia do Senhor, ou o dia de descanso cristão; que deve ser consagrado ao convívio do corpo espiritual. Matthew Henry dizia: se o domingo for negligenciado toda a vida espiritual decai sensivelmente. E preste a atenção! O domingo é para ser investido na comunhão com Deus, a Sua grei e o cuidado do próximo, jamais pra qualquer negócio pessoal ou entretenimento.
Thomas Brooks, puritano do séc XVII, dizia: Profanar o dia do Senhor é uma prova tão grande de um coração profano como qualquer uma que possa ser encontrada em todo o Livro de Deus. Satanás sabe mexer com isto muito bem. Hoje nós enchemos o shopping e os estádios, mas temos muita dificuldades de nos congregar.
Para os crentes primitivos o domingo era um tempo especial. No primeiro dia da semana, estando nós reunidos com o fim de partir o pão, Paulo, que devia seguir viagem no dia imediato, exortava-os e prolongou o discurso até à meia-noite. Atos 20:7. O dia era consagrado ao Senhor até o fim, até a meia noite.
Mostre-me uma nação que abandonou o dia do Senhor e eu lhe mostrarei uma nação que se apropriou da semente da decadência, disse o evangelista D. L. Moody.
A igreja hoje, além de violar o dia do Senhor, restringe o tempo do culto. Para muitos há mais prazer em buscar distração do que se concentrar na presença do Senhor.
O cristianismo tem o seu berço numa tumba escancarada e isto aconteceu no primeiro dia da semana. Jesus foi ao encontro dos seus discípulos medrosos ao cair da tarde daquele dia, o primeiro da semana, trancadas as portas da casa onde estavam os discípulos com medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco! João 20:19. Então, por que nós desconsideramos o que o Senhor valorizou?
(2) que deve ser consagrado a fins do Evangelho; isto é, às atividades de cunho espiritual, que nos mantêm em íntimo relacionamento com o Senhor e o Seu povo. É preciso um tempo em nossa agenda para um relacionamento vigoroso com os membros da comunidade de Deus. Se o Senhor e a Sua igreja não forem a nossa prioridade, algo estará bem fora do alvo. Talvez, por isso, foi que Voltaire, o filósofo incrédulo, disse: Se alguém quiser matar o cristianismo, precisa abolir o domingo.
Alguns intérpretes costumam dizer que o Salmo 118:24 pode ser visto como o enfoque do dia que o Senhor separou para esta interação. Este é o dia que o SENHOR fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele. Para mim este é o dia da redenção, o dia da ressurreição, que por sinal, coincide com o 1º dia da nova semana, a semana da graça.
(3) por abster-se de todo o trabalho secular e divertimentos pecaminosos; que nos tiram do foco da centralidade de Cristo. Daniel Wilson dizia: aquele que quiser preparar-se para o céu precisa honrar o dia de descanso aqui na terra.
Para Clyde Narramore, o homem foi feito para adorar todos os dias, mas o trabalho é eliminado no dia do Senhor para mostrar sua perspectiva no plano de Deus. Se não soubermos disciplinar o nosso tempo para a real consagração do dia do Senhor, nada saberemos da verdadeira economia de Deus. Achei-me em espírito, no dia do Senhor, e ouvi, por detrás de mim, grande voz, como de trombeta, Apocalipse 1:10.
(4) pela observância piedosa de todos os meios da graça, tanto particulares; isto é, no relacionamento mais íntimo e privado dos filhos de Deus, a vivência familiar; como diz o salmista Davi no seu canto espiritual: Nas tendas dos justos há voz de júbilo e de salvação; a destra do SENHOR faz proezas. Salmo 118:15.
(5) como públicos; isto fica claro como tão bem afirmou o escritor da preciosa carta aos hebreus. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima. Hebreus 10:25. Talvez, sabendo disto, diante da pressão que o comércio exercia na política, o primeiro ministro da Inglaterra, na época, Winston Churchill, disse no parlamento: O domingo é uma instituição divina, e não há dinheiro que a pague.
Daquele tempo para cá, uma enxurrada de argumentos seculares foram sendo aderidos pela igreja em geral e o domingo virou um dia qualquer, além do que, a reunião do povo de Deus sofreu desvirtuamentos seríssimos. O culto centralizado no “altar” foi se deslocando para o auditório; os hinos que eram dedicados ao Altíssimo, passaram para ser apreciados pela congregação e, assim, o domingo deixou de ser o dia do Senhor.
Muitos homens de Deus começaram a perceber estas distorções e levantaram a voz em defesa. Vejamos, por exemplo o que disse o teólogo A. A. Hodge: a essência do dia de descanso não pode ser alterada sem que se altere a natureza do homem.
George Swinnock bradava: o dia do juízo será provavelmente um dia terrível para aqueles que desprezam o dia do Senhor. Mesmo com estes gritos, a igreja foi aos poucos cedendo às insinuações da cultura secular e gradativamente se perdeu...
As investidas na igreja contra o domingo foram incisivas durante séculos, mas foi no séc XX que conseguiram levá-lo a nocaute. O projeto de sacralização dos esportes e dos entretenimentos tomou lugar na agenda dos membros das igrejas e, aos poucos, passaram a buscar o prazer dos shows e dos espetáculos em detrimento da comunhão do corpo de Cristo. Lentamente o dia do Senhor foi sendo confundido como um qualquer.
Nos EUA as reuniões de culto que vigoravam pela manhã e à noite foram aos poucos sendo modificadas, até ficarem apenas na parte da manhã, para que as pessoas pudessem ter tempo com a “família” ou poderem participar dos entretenimentos.
(6) e pela preparação para aquele descanso que resta para o povo de Deus; ou como dizia o sábio Richard Baxter, cuide para que o dia do Senhor seja usado em santa preparação para a eternidade. Há um descanso que nos foi prometido, se não soubermos antegozá-lo, o céu será um lugar muito complicado para nós.
O sábado no AT apontava para o Messias que havia de vir. Só nEle o povo teria serenidade e calma. O domingo no NT aponta para o Cristo que já completou a Sua obra. Só nEle encontramos o nosso descanso eterno. O descanso em Cristo, descansa domingo.
O descanso do sábado, no pacto da lei, era em consequência do serviço árduo anterior. Havia labuta e isto exigia um lazer no final das contas. O descanso do domingo, no pacto da graça, começa no início da semana e muda todo o enfoque. Antes o descanso era em consequência do trabalho. Agora, nós descansamos na obra consumada de Cristo para poder trabalhar com alegria e desprendimentos.
O povo de Israel comemorava o sábado, mas não entrou no descanso. Nós, por outro lado, precisamos entrar no descanso, todavia, precisamos comemorar o domingo. Apressemo-nos, pois, por entrar no descanso, a fim de que ninguém caia, segundo o mesmo exemplo de desobediência. Hebreus 4:11. Jesus é o nosso descanso eterno.