Estudo | Glenio Fonseca Paranaguá - Art. 12. ACERCA DA CONCORDÂNCIA DA LEI COM O EVANGELHO
![](../content/imgsite/separador-ib.jpg)
Art. 12. ACERCA DA CONCORDÂNCIA DA LEI COM O EVANGELHO
A lei de Deus fala do próprio caráter de Deus. Não há qualquer diferença entre o que Deus é e o que Ele propõe em sua lei. Quando Ele ordena não matarás é porque a morte não faz parte de Sua essência moral. Deste modo, a lei sempre será um reflexo da realidade santa de Deus, e exala o perfume da santidade.
A lei espelha em seu tecido interno a santidade de Deus diante do pano de fundo do pecado. Ela é uma realidade de natureza espiritual para diagnosticar um ser morto em seu espírito, por causa do pecado.
A lei revela a natureza da santidade divina, embora não seja salvadora. Ela está para a percepção do pecado, assim como os exames clínicos estão para o diagnóstico da doença. A lei descobre a perversão, mas só o Evangelho traz cura.
O salmista Davi vê a lei de Deus assim: A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma; o testemunho do SENHOR é fiel e dá sabedoria aos símplices. Salmos 19:7. A restauração ou retorno da alma à relação com Deus só pode ser efetivada sob o parâmetro da perfeição da lei. Embora a lei não possa produzir as suas santas exigências, sem a santidade da lei é impossível haver restauração.
A lei requer a santidade, mas só a graça pode conceder. Sem a lei ninguém pode se ver, perfeitamente. Ela se manifestou para mostrar quem o ser humano é depois do pecado, enquanto a graça se manifesta para salvar o pecador que a lei o acusa de impiedade. A lei aponta para a total perversão do pecador, a garça para a perfeita libertação deste, em Cristo Jesus, crucificado.
A lei e a graça são dois lados da mesma moda. As duas falam do projeto de Deus na redenção do pecador. Uma traz a acusação do réu, a outra a libertação do condenado. A primeira aponta para a gravidade da doença, a segunda para a excelência do remédio. A lei leva-nos ao Calvário, a graça nos tira da sepultura. Ambas exercem papéis fundamentais para a salvação do pecador.
(1) Cremos que a Lei de Deus é a base eterna e imutável do seu governo moral, ou seja, o governo eterno do Altíssimo se baseia em Seu caráter eterno refletido em Sua lei imutavelmente eterna.A lei não surgiu por causa do pecado, mas o pecado se manifestou em razão de uma transgressão da lei.
Para Jesus a lei é permanente e precisamos tomá-la como perene. E é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da Lei. Lucas 16:17.
Ninguém poderá ser salvo pela lei, mas ninguém será salvo sem lei. Não há libertação de um crime que não existe e não há crime sem que haja lei. Não há salvação do pecador que não tenha consciência do pecado e não há a menor consciência de pecado se não houver a aplicação da lei, pelo Espírito Santo.
A lei é a sonda que detecta a pecaminosidade do gênero adâmico. Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus, visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado. Romanos 3:19-20.
(2) que essa Lei é santa, justa e boa; isto é, não há nada nela que a macule. A sua essência é divina e a evidência é a pureza moral. O apóstolo Paulo a descreve: por conseguinte, a lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom. Romanos 7:12. Contudo, é bom repetir: - não há salvação pela lei, embora não haja salvação sem a lei. Ela é fundamental para o nosso diagnóstico.
J. Blanchard diz: a lei de Deus foi dada para revelar o pecado, não para removê-lo. Sua importância é fundamental neste processo, quando nos remete ao Evangelho para sermos justificados do pecado, mediante a obra de Cristo, todavia o Evangelho nos remete à lei para conhecermos os nossos deveres de justificados e podermos viver a lei, por meio da vida de Cristo ressuscitado.
O ser humano natural não consegue viver integralmente a lei de Deus, mas os filhos de Deus vivem na lei mediante a vida de Cristo que está neles. Cristo redimiu seu povo da maldição da lei, não de seu domínio; ele o salvou da ira de Deus, mas não de seu governo, dizia A. W. Pink.
Sem a lei que nos leva ao Evangelho e sem a graça que nos faz viver no contexto moral da lei, podemos afirmar, sem sombra de dúvida, que não houve a verdadeira experiência de salvação. Como ensinava C. C. Ryrie - havia graça no reinado da lei e há lei no reinado da graça. Cuidado com a anomia ou a falta da lei na conduta desta cristandade da religião dos sentimentos.
A lei é o que precisamos fazer, mas não temos capacidade; o Evangelho é o que Deus fez e faz em favor dos seus filhos, através da obra e vida de Cristo. Foi neste contexto que Blaise Pascal disse: a lei exige o que não pode dar; a graça dá tudo o que exige. Graças ao Pai que a graça nos faz praticantes da lei.
(3) que a incapacidade dos homens decaídos da qual falam as Escrituras, para cumprirem seus preceitos provém unicamente do seu amor ao pecado; pode-se dizer: o viciado tem mais opção à sobriedade, do que o pecador à obediência da lei. Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Romanos 8:7.
A pergunta do profeta tem uma afirmação sem rodeios. Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as suas manchas? Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal. Jeremias 13:23. É impossível alguém mudar a cor da pele, bem como praticar a lei, sem o milagre da graça.
Sem uma obra sobrenatural de Deus não é possível alguém ser salvo de sua rebeldia contra a lei de Deus. É preciso um milagre para mudar este quadro, e fica claro. Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. João 6:44. Ninguém é ninguém.
Para D. J. Burrell - O Deus da Bíblia, e nenhum outro, pode satisfazer as necessidades humanas. Seu código moral atravessou durante séculos as chamas da controvérsia, mas não ficou nem mesmo com cheiro de queimado.
(4) que um dos principais objetivos do evangelho é o de libertar os homens do pecado e restaura-los em Cristo a uma obediência sincera dessa santa lei, concorrendo para isso os meios da graça proporcionados em conexão com a igreja visível; onde a soberana graça de Deus opera este milagre.
Martinho Lutero dizia que - a lei descobre a doença. O evangelho dá o remédio. Eis o remédio certo em Cristo: Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: na sua mente imprimirei as minhas leis, também sobre o seu coração as inscreverei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Hebreus 8:10.
A concessão da lei é parte da dispensação da aliança da graça, diz Donald MacLeod. Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado, a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito. Romanos 8:3-4.
A lei diz “faça”; a graça diz “está feito”. Cristo é o cumprimento da lei.