Estudo | Glenio Fonseca Paranaguá - ORAÇÃO, REAÇÃO HUMANA POR AÇÃO DIVINA
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ORAÇÃO, REAÇÃO HUMANA POR AÇÃO DIVINA
De uma feita, estava Jesus orando em certo lugar; quando terminou, um dos seus discípulos lhe pediu: Senhor, ensina-nos a orar como também João ensinou aos seus discípulos. Lucas 11:1.
Um dos ministérios mais difíceis, no reino de Deus, é o da oração. Talvez o mais. E, além do mais, há pouco ou quase nenhum interesse por esse assunto. Jesus tinha um grupo de discípulos bem maior do que os 12 apóstolos, mas só um propôs a Ele que os ensinasse a orar. Muito pouca gente se percebe motivada a orar, ou quer orar.
Há muita dificuldade em orar. É extremamente mais complicado orar, do que trabalhar. Vejamos alguns impedimentos e complicações no terreno da oração.
Orar não é fácil. Trata-se de um diálogo de uma pessoa física com uma pessoa metafísica, isto é, além da física. É a conversa dum ser que vive na esfera tridimensional, com Alguém que está numa outra dimensão, completamente fora da nossa. Como posso falar com alguém que não vejo, no escuto e não percebo a sua presença real?
Orar exige muita concentração. Falar com Alguém numa dimensão invisível e imperceptível, sendo distraído, o tempo todo, por tudo o que é sensorial, requer um nível de atenção fora de série. Jesus convidou três dos seus discípulos para orar com Ele, mas vejam o que aconteceu: E, voltando para os discípulos, achou-os dormindo; e disse a Pedro: Então, nem uma hora pudestes vós vigiar comigo? Mateus 26:40.
As vezes a oração é uma conversa do orador com ele. Ao invés do tal orador falar com Deus, ele fala consigo mesmo. É uma espécie de um monólogo dirigido a auto valorização: O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano. Lucas 18:11.
A. W. Tozer dizia: “Muitas vezes concebe-se a oração como pouco mais do que uma técnica de autopromoção, um método celestial de conseguir sucesso terreno.”
Outros fazem da oração uma aula para ensinar a Deus como ser Deus. O risco aqui é terrível. “Acima de tudo, tome cuidado em sua oração para não limitar a Deus, não apenas com a incredulidade, mas julgando que você sabe o que ele pode fazer”, explicou Andrew Murray. Gastamos muito tempo mostrando a Deus como Ele deveria agir.
Uma outra questão no processo da oração é o tempo que investimos no tema. “A maioria dos problemas do homem moderno origina-se do tempo exagerado que passa usando as mãos e do tempo insuficiente que passa usando os joelhos”, disse muito bem Ivern Boyett, e o pregador E. M. Bounds foi um pouco mais à frente: “o pequeno valor que damos à nossa oração torna-se evidente pelo tempo que dedicamos a ela.”
Orar é sempre uma luta espiritual intensa. Quem ora encontra-se num planto material, embora trave uma guerra no mundo transcendente, porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. Efésios 6:12. É o combate entre dois mundo: o material e o espiritual.
Orar não é um assunto do homem natural. Estamos falando de oração, de fato, pois orar, trata-se de um expediente da vida espiritual. Só atenta às realidades espirituais aquele que tem vida espiritual. O homem natural pode rezar, repetir palavras e mantras, orar, nunca. A oração é uma conversa espiritual de um filho de Deus com o seu Pai.
Oração é uma realidade espiritual movida pela fé, e essa só funciona no mundo invisível. Ora, ter fé é ter certeza de que vamos receber as coisas que esperamos e ter convicção de que uma coisa existe, mesmo quando não a vemos. Hebreus 11:1. Não existe fé na terceira dimensão. Nesta, constatamos os fatos sensíveis.
A oração é uma realidade espiritual manifesta apenas no homem espiritual, que tem a visão espiritual. Nós não nos concentramos nas coisas que podemos ver, mas nas coisas que não podemos ver. Pois o que nós podemos ver é temporário, mas o que não podemos ver é eterno. 2 Coríntios 4:18. A oração é uma visão do invisível.
Como uma realidade espiritual, a oração é uma semente que vem do coração de Deus e é plantada no coração dos Seus filhos, para voltar pra Ele. Como disse C. H. Spurgeon: “As verdadeiras orações são como pombos-correios que encontram seu caminho com extrema facilidade; elas não podem deixar de ir para o céu, pois é do céu que procedem; elas estão apenas voltando para o lugar de onde vieram.”
A criança aprende a falar ouvindo os seus pais. Nós, também, aprendemos orar ouvindo a palavra do Pai. Agostinho dizia: “a natureza da bondade divina não está apenas em abrir àqueles que batem, mas também em levá-los a bater e pedir.” E nós aprendemos a bater e pedir em comunhão com a Trindade. “A oração eficiente é um quarteto: o Pai, o Filho, o Espírito Santo e o cristão”, num relacionamento balizado pela Palavra.
Hoje é muito mais fácil encontrar um pregador do que um intercessor. Orar não dá visibilidade pública. É importante termos pregadores fiéis que preguem a Palavra com fidelidade, mas é muito importante termos intercessores, como ensinava E. M. Bounds: “falar com os homens sobre Deus é uma grande coisa, mas falar a Deus sobre os homens é algo ainda maior.” Eu diria que estas duas ênfases precisam da maior consideração.
Jesus pagou um alto preço por nossa redenção. Nós, contudo, não pagamos coisa alguma vivendo em oração, mas pagaremos caro se não orarmos. A igreja que não ora, colabora direto com o Diabo na expansão do seu império maligno.
“Satanás está mais ansioso em nos impedir de ficar de joelhos do que em nos fazer cair.” Se tivermos consciência de que a oração é uma arma poderosa contra o eixo do mal, e nos recusarmos a participar das reuniões de oração, damos o maior apoio aos exércitos das trevas, sendo omissos na batalha contra o maligno.
O avivalista, Leonard Ravenhill, disse : “Os auto-suficientes não oram; os auto-satisfeitos não querem orar; os auto-justificados não conseguem orar”. Onde estamos nós nesta avaliação? Pensemos nisso. Oração não é um mero dever. É um relacionamento de um filho, alcançado pela graça, com o seu Pai gracioso, por puro e santo prazer espiritual.
O nosso arsenal não pode ser carnal. Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo, e estando prontos para punir toda desobediência, uma vez completa a vossa submissão. 2 Coríntios 10:4-6.
Necessitamos hoje de uma igreja que perceba a oração como algo poderoso. Foi o D. Martyn Lloyd-Jones quem afirmou nos anos 80. “Precisamos viajar menos de avião a jato, de um congresso para outro... porém de mais orações de joelhos, rogando a Deus que tenha misericórdia de nós, mais clamor a Deus para que se levante e disperse seus inimigos e se torne conhecido.” Carecemos de gente que se humilhe em oração.
Alguém disse: “A oração não nos capacita a fazer uma obra maior para Deus. Ela já é uma obra maior para Deus,” se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra. 2 Crônicas 7:14.
As reuniões de oração são termômetros da vida espiritual da igreja. Nenhuma igreja é maior do que suas reuniões de oração. Todos nós devemos orar em nosso lugar secreto, mas se nós não orarmos juntos, como igreja, não somos uma igreja de verdade.
A igreja de Jerusalém tinha o hábito de orar em comunhão congregacional, e, ao orar, o Senhor se manifestava. Vejam essa ocasião, quando oraram pelos apóstolos que foram presos: tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus. Atos 4:31. Assim como o fogo precisa de mais combustível para queimar com mais força e vigor, assim a igreja precisa de maior ênfase na oração para se tornar fervorosa.
Todos nós, na igreja, temos diferentes dons, segundo a medida da graça, mas, como filhos de Deus, como trigo legítimo, temos todos a capacidade espiritual de sermos intercessores, portanto, todos nós somos vocacionados a participar da vida de oração na comunidade espiritual. Não há desculpa para ninguém, a não ser, para o joio... então!