Estudo | Glenio Fonseca Paranaguá - O OUTRO EVANGELHO
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O OUTRO EVANGELHO
Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo.Gálatas 1:6-7.
O apóstolo está perplexo com a debandada dos membros da igreja na Galácia. O seu espanto o deixa como que pasmo. É inacreditável que aqueles que corriam bem se desencaminharam pela rota do humanismo da religião judaica. É espantoso!
Paulo confronta os Gálatas, de uma só vez, em sua disponibilidade para aceitar o erro de modo harmonioso. O que estaria acontecendo para que os crentes da Galácia se encantassem com algo que parecia ser o evangelho? Onde eles se perderam?
O apóstolo estava surpreso por eles terem negado tão de repente a verdade do Evangelho, a ponto de solenemente rotular essa ação de ter abandonando a Deus por um falso evangelho. Por que Paulo o considera como sendo um evangelho adulterado?
Deus os havia chamado para a graça de Cristo; mas, agora, eles estavam com um modo de ser, colocando-se sob a maldição da lei. Eles haviam recebido o puro e santoEvangelho; agora eles estavam abandonando-o para um evangelho diferente que não era um absurdo, em tudo, mas, não trazia uma boa notícia, em tudo.
O evangelho desleal não é uma extravagância paradoxal, é apenas uma ilusão nos fundamentos. É tão-somente uma mensagem pervertida, uma mistura da graça com a lei, uma confusão do dom de Deus com os direitos humanos.
Vejamos como o apóstolo argumenta: Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema. Gálatas 1:8-9.
Paulo, por duas vezes,aqui, pronuncia uma solene maldição de Deus sobre os que pregam um outro evangelho. Receber “anátema”é uma espécie de praga destinada à mais terrível das tristezas e angústias. Quando um animal era designado anátema, estaria selando-se o seu sacrifício. Pregar outro evangelho é cuspir de novo na face de Jesus.
Deus tem apenas uma mensagem para os pecadores condenados: Ele oferece a salvação pela graça mediante a fé, totalmente à parte da observância da lei. A morte e a ressurreição de Jesus são os únicos fundamentos do Evangelho.
Aqueles que encaixam o mérito e proclamam qualquer outra forma de salvação que minimiza a graça, devem, necessariamente, ser condenados. Qualquer mensagem e estudos que diluem a graça e descaracterizam a cruz devem ser condenados com toda a veemência. Não podemos fazer acordo com a menor expressão de humanismo.
O apóstolo vê como muito gravepregar uma mensagem, baseada na lei, que, em última análise, resulta na destruição eterna das almas. Paulo não era tolerante com os falsos mestres e, nós, também não devemos ser. Não podemos fazer concessões.
John Stott adverte:”Nós não podemos ficar deslumbrados, como muitos ficam com as pessoas, dotes ou títulos dos mestres na igreja. Eles podem vir até nós com sua grande dignidade, autoridade e cursos. Eles podem ser bispos ou arcebispos, professores universitários ou até mesmo o próprio papa. Mas, se eles trazem um evangelho diferente do Evangelho pregado pelos apóstolos e registrado no Novo Testamento, eles devem ser rejeitados. Nós os julgamos por meio do Evangelho; nós não julgamos o Evangelho por meio deles”. Isto aqui é contundente e conclusivo. Não há nenhum pacto de amém.
Vejamos ainda como o Dr. Alan Cole se expressa aqui neste ponto de vista: “A aparência pessoal do mensageiro não valida a sua mensagem; em vez disso, a natureza da mensagem valida o mensageiro”. Ninguém pode ficar fora dessa análise. Observe aqui o que o apóstolo diz: nem mesmo um anjo do céu, e não “um anjo de Deus.”
Um anjo do céu pode conseguir trazer uma mensagem falsa, nunca jamais um anjo de Deus, já que esse anjo de Deus fala a palavra de Deus, tal como Deus a falou. A questão aqui é: Satanás ainda tem acesso ao céu e precisamos discernir de onde vem os tais anjos. Não basta ser anjo, é imprescindível que seja um anjo de Deus.
Nenhum anjo tem o direito de falar algo que não esteja de acordo com o que o Espírito de Deus já disse. Sair do script das Escrituras é contradizer o que Deus já disse. Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança. Romanos 15:4. Não há licença poética, nem permissão metódica para sairmos desse trilho.
Só a linguagem da cruz poderia expressar de forma mais clara a singularidade do evangelho. O Evangelho da graça em Cristo, pela obra da cruz, é o único caminho da salvação. O auto-esforço ou méritos humanos não têm nenhuma parte com o Evangelho.
O Evangelho oferece a salvação sozinho, sem mérito humano, sem dinheiro ou preço. Não há nenhum preço a pagar. Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Isaías 55:1.
Por outro lado, mesmo nossa renúncia de tudo, não tem uma perda, uma vez que, a nossa abdicação é do perecível, enquanto o ganho, é do eterno. Ninguém que vá renunciar um império terreno, perde alguma coisa, diante de um reino celestial.
Considerando que a lei tem uma maldição para aqueles que não conseguem mantê-la, o evangelho tem uma maldição para aqueles que procuram mudá-lo.
O apóstolo Paulo parece identificar a causa dessa perversão, quando se tenta adaptar o evangelho ao paladar humano, para agradar às pessoas. Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se eu agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo. Gálatas 1:10.
O desvio do evangelho começa com a dimensão da sua mensagem ao cérebro humano. Gerhard Tersteegen disse: - Um Deus compreendido não é absolutamente Deus. Um evangelho ajustado para agradar aos homens, não é o Evangelho de Cristo. Ninguém pode explicar como Deus salva o pecador, nem a explicação de alguém pode favorecer a pessoa a quem se prega o Evangelho. Só o Espírito Santo pode convencer o incrédulo.
Se buscamos argumentos para explicar o inexplicável, a fim de agradar àquele que busca uma explicação para o inexplicável, corremos céleres para o abismo que vai desembocar nas correntezas do outro evangelho, que nada tem a ver com o verdadeiro.
Deus é misericordioso e justo e o Seu Evangelho fala de Seu amor e - ira justa. Nunca podemos imaginar que a existência do amor e da ira, na mesma natureza, seja um sinal de uma personalidade dividida, visto que apenas a evidência de que Deus é maior do que nossa lógica finita pode explicar isso, disseJ. A. Motyer.
Para J. Blanchard não é verdadeiramente espiritual o cristão que não se alegra tanto em sua ignorância de Deus quanto em seu conhecimento sobre Ele. Tentar explicar o Evangelho de Deus para agradar aos homens se constitui numa maldição sem limite. É preciso que preguemos o Evangelho, jamais que expliquemos o Evangelho.
Para João Calvino - o Evangelho é a clara manifestação do mistério de Cristo, e acrescenta, o Evangelho é uma bigorna que tem quebrado muitos martelos, e quebrará ainda muitos outros. Todas as vezes que nós tentamos tornar o Evangelho agradável aos homens, temos o nosso martelo de pregador quebrado e fazemo-nos malditos.
Paulo diz muito bem: - Pois não me envergonho do Evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; Romanos 1:16. A igreja da Galácia se perdeu exatamente em ver o Evangelho como o poder de Deus e busca apresentá-lo como um cardápio agradável ao auditório.
Paulo vai mais longe: Porque não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o Evangelho; não com sabedoria de palavra, para que se não anule a cruz de Cristo. 1 Coríntios 1:17. Aqui está a ênfase: pregação e não explicação.
Tom Houston diz: o verdadeiro evangelho começa e termina com o que Deus é, não com o que queremos ou pensamos necessitar. Mas o outro evangelho busca agradar aos homens, saindo por completo do propósito eterno de Deus, com explicações que não explicam o mistério do Evangelho, pois o verdadeiro Evangelho não é uma explicação de assuntos para agradar aos homens, mas uma proclamação das realidades eternas dadas por Deus ao Seu povo, de eternidade a eternidade, para a sua libertação.
O Evangelho não é o que eu quero ou gosto, mas tudo o que Cristo fez para o seu povo desde a eternidade. Tudo se resume na morte do pecador com Cristo e na sua ressurreição em novidade de vida. O Evangelho se caracteriza pelo sangue do Cordeiro e nunca pelo suor de Caim. Não é o que fazemos, mas o que Cristo fez desde a eternidade. Amém.