Estudo | Glenio Fonseca Paranaguá - A raiz das boas obras
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A raiz das boas obras
Ou fazei a árvore boa e o seu fruto bom ou a árvore má e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore. Mateus 12:33.
A criança é um serzinho curioso e bisbilhoteiro. Indaga acerca de tudo e tudo quer saber. Esta curiosidade é fruto da sua potencialidade racional e da sua ignorância constitucional. O bebê nasce com 100% de potência para conhecer e 0% de conhecimento atualizado. Ele tem um potencial cognitivo integral, mas, também, total ausência de informação. Além do que, é rebelde.
Ato e potência são dois fundamentos filosóficos para o desenvolvimento do ser. A semente, como semente, é um ato em si mesmo, embora seja, ao mesmo tempo, a potência de uma árvore. Uma criança que em sua infância se sentara numa semente de carvalho, pode dizer aos oitenta anos de sua existência, que já estivera sentado no cume daquele carvalho enorme. Conquanto estivesse apenas sentada sobre a potência seminal, esteve assentada no cimo daquela árvore atual.
Todos nós nascemos potencialmente racionais, mas nem todos conseguem desenvolver o potencial de sua racionalidade. Há muita gente que vem ao mundo sem as condições para dilatar a sua capacidade intelectual, e, por isso mesmo, não alcança um bom alargamento de suas potencialidades racionais. Tem potência de conhecimento, sem, contudo as propriedades de atualização.
A potência cognitiva foi invadida pelo desejo teomaníaco de ser como Deus e a alternativa para essa decisão foi o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Nós, como descendentes de Adão, nascemos com a potencialidade do conhecimento do bem e do mal e a atualização desta potência é o desejo de ser absoluto e onipotente como Deus.
O ser humano tem potencial para o conhecimento do bem e do mal, não obstante não tenha as condições primárias para ser bom como Deus. Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão um, que é Deus. Marcos 10:18. Só Deus é essencialmente bom.
A bondade humana é relativa ao seu egoísmo intrínseco. O que apelidamos de bom na esfera humana depende do que nos interessa no momento ou das contingências emocionais da nossa psique. Um sádico pode dizer que bom é fazer alguém sofrer, enquanto um masoquista consegue ver na sua dor algo de bom para ele. Vitor Hugo dizia que “é muito agradável praticar uma boa ação que desagrada alguém de quem não gostamos”.
Por causa do pecado o gênero adâmico tornou-se mau por natureza. Se Jesus disse que ninguém é bom, então temos que admitir com clareza, que todos nós ao nascermos neste mundo, já somos maus por índole. Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem? Mateus 7:11.
Jesus afirmou que somos maus. Mesmo assim, sabemos dar boas dádivas de acordo com as nossas conveniências. Então, como vamos compatibilizar essa maldade inerente do ser humano, com uma bondade humanista aparente, que serve apenas para agradar as pessoas em suas preferências egoístas? Como é isto? Pais maus dando boas dádivas aos seus filhos! Como pode uma fonte de água salobra jorrar, ao mesmo tempo, água doce?
Parece incoerência falar de gente má dando coisas boas, uma vez que a Bíblia mostra a frutificação da espécie como uma questão essencial da sua natureza. Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons. Mateus 7:17-18.
Se não pode uma árvore má produzir bons frutos, como pode uma pessoa má dar boas dádivas? É possível esta incoerência? Precisamos primeiro analisar a questão da bondade constitucional e da bondade condicional. Depois vamos analisar o fruto e as dádivas.
A bondade humana é uma afeição relacional relativa e condicional, enquanto a bondade divina é inerente ao seu ser, totalmente absoluta e incondicional. Só Deus é bom em essência, é realmente bondoso em sua manifestação. Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança. Tiago 1:17. Aba é invariavelmente bom, até mesmo quando nos pune.
Deus é bom e o fruto ou o resultado do seu ser é a sua bondade imutável. Ele é intrinsecamente bom e as suas dádivas são boas, inclusive, quando, aos nossos olhos, elas se parecem más. A justiça divina é boa e perfeita ainda que nos conduza ao inferno. Deus é tão justo quanto bom, tanto na salvação do pecador como na condenação do incrédulo. Ele é bom em abençoar o indigno com sua graça e bom em condenar o arrogante com sua justiça.
A bondade divina é inerente ao seu ser absolutamente bondoso. Jean Jacque Rousseau afirmou em seu racionalismo: “tudo é bom ao sair das mãos do Criador; tudo degenera nas mãos dos homens”. Como a árvore boa só pode produzir frutos bons, assim toda bondade essencial só pode advir de uma fonte essencialmente boa. Só Deus é bom e só ele pode produzir boas obras.
A raça humana, contaminada pelo pecado, pode até dar boas dádivas uns aos outros, segundo os seus interesses, mas jamais produzirá boas obras de si mesmo. Todas as coisas que Deus fez, são coisas boas e por causa dos meus desejos egoístas, eu posso dar as coisas boas de Deus para alguém que eu quero como meu troféu e dentro dos meus proveitos pessoais. Essa é uma bondade conveniente aos meus objetivos egocêntricos ou individualistas.
Deus é bom essencialmente e somente ele produz boas obras e dá boas dádivas. O ser humano é mau por causa do pecado, por isso mesmo, ele não pode produzir boas obras, ainda que possa dar boas dádivas segundo os seus desejos e méritos. Bertolt Brecht insistiu: “ai de nós que tentamos edificar os alicerces da bondade! Nós mesmos não conseguimos ser bons”.
Uma pessoa má sabe dar boas dádivas, mas não pode produzir boas obras. A árvore que desencadeou o pecado foi a do conhecimento do bem e do mal. O pecador sabe distinguir entre o bem e o mal e sabe dar coisas boas e más aos outros, só não tem capacidade de produzir as boas obras, porquanto só Deus é bom. Porquanto cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto. Porque não se colhem figos de espinheiros, nem dos abrolhos se vindimam uvas. Lucas 6:44
Adão foi feito bom pelo seu Criador, mas se tornou uma pessoa perversa em conseqüência do pecado. A raça adâmica é maligna em sua natureza pecadora, por isso tem que ser desconstruída pela cruz de Cristo Jesus, a fim de ser reconstruída na ressurreição de Jesus Cristo, em novidade de vida. Ou fazei a árvore boa e o seu fruto bom ou a árvore má e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore. Mateus 12:33. Sem a desconstrução do velho Adão não haverá um novo homem produzindo frutos bons.
O Senhor Jesus foi categórico com o cultivo do seu horto espiritual. Para ele não há a menor alternativa em tratar da velha natureza. Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada. Mateus 15:13. A tiririca precisa ser erradicada do nosso jardim, assim como a natureza maligna do pecado necessita ser extraída de nossa vida com Deus. Sem a morte do velho homem não é possível o nascimento do novo homem. Entre a lagarta e a borboleta há uma metamorfose.
João Batista sabia muito bem com resolver este quesito procedente da agricultura edênica. Ora, se o problema encontra-se na radícula da planta, consecutivamente, basta cortá-la bem na sua raiz para sanar o problema. Já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Mateus 3:10. A poda tem que ser radical.
O velho homem jamais produzirá boas obras. O adâmico é desprovido de frutos sadios de benignidade. Nunca compare os seus frutos de bondade com os frutos de outros seres humanos, mas com o fruto da Videira Verdadeira. Neste caso, nenhum fruto humano é bom em essência.
As boas obras na espécie humana dependem da poda radical e de sua enxertia na Videira Verdadeira. Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. João 15:5. Só Deus é realmente bom e somente o ser humano enxertado em Cristo será capaz de frutificar as boas obras divinas.
O primeiro homem, Adão, foi crucificado no último Adão, Cristo Jesus, lá na cruz, e nós, também, fomos crucifixados juntamente com eles. O segundo homem, Jesus Cristo, nos deu a sua vida na ressurreição dentre os mortos para produzirmos as boas obras que o Pai preparou desde a eternidade, a fim de andarmos nelas. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas. Efésios 2:10.
O homem natural pratica as obras de justiça própria, e, às vezes, estas aparecem enfeitadas de boas dádivas, entretanto, só o homem espiritual, nascido de novo, pela graça em Cristo, pode produzir as boas obras provenientes da natureza de Deus. A árvore boa produz bons frutos.
Assim, a nova criatura deve ser vista sempre produzindo boas obras, mas nunca produzirá as boas obras para ser vista. Este é um dos sinais da autenticidade das boas obras, que nunca pode ser desconsiderado. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus. Mateus 5:16. A glória pertence somente ao Pai. Aleluia! Amém.