Estudo | Glenio Fonseca Paranaguá - O pecado dos pecados VI
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O pecado dos pecados VI
Se pequei, que mal te fiz a ti, ó Espreitador dos homens? Por que fizeste de mim um alvo para ti, para que a mim mesmo me seja pesado? Jó 7:20
.Como um pecador pode indagar ao Santo: — se pequei? A raça de Adão encontra-se profanada pela descrença. A criança já nasce atéia. O pecado, antes de tudo, é a incredulidade em face da palavra de Javé Elohim ou Jesus Cristo. Jó, como todos os seres humanos, é um pecador, mas o seu problema principal era a justiça própria que o tornava aparentemente auto-suficiente.
Chata’ é a palavra usada no texto hebraico para pecar. Um dos seus significados é cometer erro na pontaria, fazendo com que o pecado seja definido como errar o alvo. Atirar fora da mira.
Jó estava injuriado com tudo o que vinha lhe acontecendo e questionou com aspereza: se errei o alvo, por que fizeste de mim o teu alvo, ó Intrometido na vida alheia? Viver por conta própria é a primeira evidência do pecado. Ele era um autônomo e não enxergava a sua justiça pessoal como o seu entrave, mas percebia que Deus era um bisbilhoteiro. Porque Jó disse: Sou justo, e Deus tirou o meu direito. Apesar do meu direito, sou tido por mentiroso; a minha ferida é incurável, sem que haja pecado em mim. Jó 34:5-6.
Deus fez de Jó o seu alvo porque Jó havia errado o alvo de Deus. O alvo divino para o ser humano é Javé Elohim ou a pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo. Errar o alvo é pecar, e pecado é não crer em Jesus. Quem confia em si mesmo, não confia em Cristo. Quem confia em Cristo Jesus não confia em si mesmo por hipótese alguma. A autoconfiança é o pecado mais perigoso. Jó se baseava em sua justiça, logo ele não precisava ser justificado por Javé.
Quem se defende não carece da defesa de Deus. Aquele que se basta é tolo bastante ao tentar dar um basta em Javé. A descrença em Jesus é, normalmente, a alavanca para a crença em si mesmo. Quem nega a graça da redenção se envolve na desgraça da auto-aceitação. Achas que é justo dizeres: Maior é a minha justiça do que a de Deus? Jó 35:2.
O ser humano erra o alvo quando perde de vista a pessoa de Jesus. Todos os que se justificam não podem ser justificados. Davi, na tipologia de Cristo, afirmou o que só Jesus pode assegurar em plenitude: Retribuiu-me o SENHOR, segundo a minha justiça, recompensou-me conforme a pureza das minhas mãos. Salmos 18:20. Na verdade a justiça de Davi aqui é uma flecha em direção ao alvo de Deus que é Cristo Jesus. A justiça humana não passa de trapo de imundícia.
Aquele que se justifica peca, errando o alvo. Aquele que é justificado por Cristo, acerta na mosca o alvo de Deus para o ser humano. Se alguém errar o alvo de Deus, que é Cristo, Deus fará dele o seu alvo, a fim de levá-lo a acertar a pontaria. Quando Jó voltou-se para si mesmo, Deus se voltou para ele, enviando-lhe Satã com o objetivo de realizar a obra da desconstrução de Jó. O sacrifício do Cordeiro justifica o pecador indigno, mas só o sofrimento pesado pode arrastar o justo em sua justiça para a fonte da justificação em Cristo.
Uma pessoa cheia de si mesmo é um alvo para Deus esvaziá-la na cruz com Cristo. Uma pessoa esvaziada pelo Espírito Santo de Deus tem como alvo a pessoa de Cristo para sua justificação, regeneração, santificação e glorificação. Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção, para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor. 1 Coríntios 1:30-31.
Errar o alvo é confiar em si mesmo. Acertar o alvo é confiar em Cristo. Saulo foi um autoconfiante e sabia disto ao dizer que ele era irrepreensível quanto à justiça da lei. Ele foi um religioso impecável, uma pessoa corretíssima, até considerar tudo como refugo por causa da sublimidade de Cristo, a fim de ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé. Filipenses 3:9.
Jó, Saulo de Tarso e o centurião Cornélio foram homens justos legalmente, embora todos eles precisassem ser justificados pela graça de Deus em Cristo. Ser íntegro não significa ser salvo por Cristo. Há muita gente incorruptível, honrada e moralmente adequada que ainda não foi perdoada do seu pecado de incredulidade em relação à pessoa e obra de Jesus. O que nos leva à perdição eterna não é tanto o pecado da transgressão da lei e sim o pecado de descrença em Jesus.
Como temos visto nesta série de estudos, o pecado dos pecados é não crer em Cristo. Logo, aquele que crê em Cristo não precisa se justificar dos seus pecados, uma vez que já foi justificado pela sua obra no Calvário. Precisa sim, arrepender-se de si mesmo e confessar-se incrédulo. Além disso, não precisa ser aceito pelas suas obras de justiça própria, nem santificado por meio de sua atuação, visto que até as nossas obras são geradas em Deus. Aquele que faz o bem se chega para a luz, a fim de que sejam manifestas as suas obras, que têm sido feitas em Deus. João 3:21 (TB).
Nós não somos salvos pelas obras de justiça praticadas por nós, nem santificados pelas nossas boas obras. No processo da nossa santificação, por meio da vida de Cristo, conduzida pelo Espírito Santo, em nosso espírito, nós manifestamos boas obras, em razão da apropriação da vida divina em nosso novo coração, pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas. Efésios 2:10.
Toda a nossa vida espiritual depende de Cristo, do começo ao fim. Errar o alvo é não estar sujeito pela fé à pessoa e obra de Cristo. Enquanto vivermos neste corpo corruptível, nós não obteremos a perfeição em nosso viver. Paulo tinha consciência disto muito bem: Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus. Filipenses 3:12.
O apóstolo Paulo tinha convicção de que Jesus já o havia conquistado, não obstante ele ainda não se encontrava pronto. Ele se via como uma obra inacabada. Era uma pessoa em processo de construção. Contudo, a sua peregrinação tinha um alvo firme e imutável: Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Filipenses 3:13-14.
Ainda que Paulo não fosse uma pessoa completa e acabada, era alguém que dirigia sem o olhar fixo no retrovisor, olvidando-se do seu passado, mas avançando sempre para o seu alvo, Cristo. Aqui vemos um pecador vivendo sem pecar, isto é, sem errar o alvo. Todos, pois, que somos perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se, porventura, pensais doutro modo, também isto Deus vos esclarecerá. Filipenses 3:15. Parece um paradoxo: Paulo não é perfeito, mas é perfeito. Só parece. Ele não era perfeito em si, todavia o seu alvo perfeito era perfeitamente o seu único alvo.
Ora, se pecar é errar o alvo e o alvo de Deus para o ser humano é Cristo Jesus, então viver no pecado é não crer em Cristo como o seu exclusivo e satisfatório Salvador e Senhor. Aquele que não tem como seu alvo crer e depender apenas de Cristo para sua salvação, santificação e glorificação, vive no pecado, sem a perfeição de Cristo como a sua garantia eterna de perfeição.
Jó era um homem justo em sua justiça de aspecto imaculável, mas não cria suficientemente na justiça legítima de Javé para a sua plena justificação. Ele passou a maior parte do livro se justificando diante das acusações dos seus amigos justíssimos. Só quando Eliú, o seu amigo gracioso, começou a falar da misericórdia de Deus, Jó se calou, para depois ouvir Javé falar com ele. Depois disto, o SENHOR, do meio de um redemoinho, respondeu a Jó: Jó 38:1.
Javé sabatinou aquele justo indignado com setenta perguntas, e ele, justamente, tirou zero como nota de aprovação. Sem mérito para ser aprovado, ele se confessa como indigno e reconhece que falou do que não entendia. Sou indigno; que te responderia eu? Ponho a mão na minha boca. Jó 40:4. Aqui está o boletim de qualificação dos discípulos de Javé. Quando eles são reprovados em seus valores pessoais, então serão aprovados pela graça de Deus em Cristo.
Quando o homem é um nada diante o trono de Deus, Cristo é tudo para ele. Jó não se arrependeu de coisa alguma errada que tivesse praticado, mas arrependeu-se de si mesmo em sua autoconfiança. Ele havia errado o alvo crendo em si e afirmou: eu conhecia Javé só de ouvir falar. Toda a sua teologia era teórica e através de terceiros. Eram noções da escola dominical e não de relação pessoal com Deus. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza. Jó 42:6.
Deus fez de Jó o seu alvo porque Jó havia perdido o alvo de Deus de vista. O pecado dos pecados é a autoconfiança evidenciada na justiça própria e esta é pesadíssima. A salvação do pecado é olhar para Cristo como o único alvo de Deus e este fardo é de pouco peso. Olhai para mim e sede salvos, vós, todos os limites da terra; porque eu sou Deus, e não há outro. Isaías 45:22.