Estudo | Glenio Fonseca Paranaguá - O pecado dos pecados V
O pecado dos pecados V
Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte. Tiago 1:15.
A origem do pecado é o desejo da criatura de ser o Criador. Todo ser pessoal é dotado de inteligência, emoções e vontade. O Criador, descrito como Elohim, é o coletivo triúno da unicidade divina que não tem causa. Se a Trindade, ou seja, o Deus Criador fosse criado, ela não poderia ser o Criador, e sim, uma criatura. Quem tem uma ascendência só pode ser um descendente. Se Deus tivesse sido criado ele seria uma criatura e quem o criara seria o Criador.
Elohim é o único Criador de tudo, e todos os seres pessoais são suas criaturas. Ao sermos criados como pessoas, fomos criados com inteligência, emoções e vontade. Vimos em estudos prévios, que a criatura não pode ser o Criador, mas pode desejar ser o Criador. Aqui reside o xis da questão: a ambição em ser o que é impossível se tornar. A criatura nunca poderá ser o Criador.
Todavia, a criatura, desejando ser o que jamais será possível, arma-se da incredulidade a fim de rebelar-se contra a palavra de Javé Elohim. Como eu, a criatura, não posso ser o que eu quero ser, isto é, o Criador, então, eu me insurjo à sua vontade. A rebeldia é fruto da descrença.
O pecado é um estado de inconformidade da criatura diante do Criador. Mas, para que isto vá avante é preciso desconectar-se do Criador, em descrença íntima. A transgressão só será possível se a dúvida da criatura promover o ateísmo subjetivo. Concebem a malícia e dão à luz a iniqüidade, pois o seu coração só prepara enganos. Jó 15:35.
Temos analisado aqui, nesta série, o pecado dos pecados, que segundo Jesus o pecado é não crer nele. A incredulidade em relação à pessoa de Javé Elohim é a causa da desobediência. Antes do ato infrator eu preciso desenvolver uma atitude de ceticismo para com Javé ou Jesus, a fim de validar a minha contravenção. Quando eu não creio nele fico livre para violar as ordens dele.
Nietsche matou Deus com o objetivo de desenvolver a sua filosofia arrogante do super-homem. Só a negação de Deus ou o seu assassinato idealizado podem permitir uma vida libertina e imoral. A teomania, isto é, a demência em ser como Deus é, de fato, a base de lançamento da idolatria humanista. Se Deus existir realmente, então eu terei que prestar contas dos meus atos a ele, e, neste caso, para os soberbos é melhor negá-lo do que ter que enfrentá-lo.
A reação natural do ser humano é o ateísmo. Por causa do pecado original todos nós nascemos incrédulos ou incapazes de crer na realidade espiritual. Com a morte do espírito, devida ao pecado, a humanidade ficou destituída da aptidão de compreender os fatos imateriais. Entretanto, há uma necessidade racional de explicar a ordem do cosmos, e, em razão disto, o ser humano acabou desenvolvendo os sistemas religiosos dentro dos limites de sua mente.
A religião é uma iniciativa humana na tentativa de governar os mistérios inexplicáveis. O ser humano teomaníaco arrisca controlar e explicar o transcendente. Mas, diante de sua incapacidade de elucidar a realidade espiritual, sua alternativa é criar uma religião nos limites de sua mentalidade ou negar a perspectiva de existir o mundo espiritual.
Todos nós viemos ao mundo incrédulos. Nenhum bebê nasce crendo em Deus. Envolvemo-nos na matéria sem qualquer aptidão para crer na realidade espiritual, sendo dirigidos apenas pelas leis da física. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. 1 Coríntios 2:14.
A raça adâmica ficou morta na esfera espiritual, por isso, encontra-se incapaz de distinguir as coisas espirituais. Neste caso, as pessoas naturalmente ou permanecem incrédulas, atéias, ou elas inventam uma religião, na qual o seu deus é feito à imagem e semelhança da realidade material.
As crenças religiosas são aprendidas. Assim como ensinamos a estrutura de uma língua e os métodos matemáticos para uma criança, também ensinamos as tradições religiosas. Muitos "cristãos" foram forjados na escola dominical sem a menor experiência de fé em Cristo Jesus. Eles acreditam, mas não crêem. Têm assentimento mental, embora eles não confiem de todo o coração.
Uma coisa é dar crédito a Jesus Cristo, outra, bem diferente, é depender inteiramente dele. Acreditar é um ato natural baseado em evidências. Crer em Cristo é um dom sobrenatural garantido aos eleitos de Deus vivificados pela pregação do evangelho. Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação. 1 Coríntios 1:21. Assim como no caso de Lázaro no sepulcro, assim o evangelho é pregado ao morto espiritual, a fim de vivificá-lo com fé na palavra que lhe foi pregada.
A Bíblia mostra que a fé decorre de escutar a voz de Cristo. E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo. Romanos 10:17. Mas como um morto espiritual pode ouvir a realidade imaterial e inaudível da voz de Cristo, se primeiro não for vivificado?
Tudo começa com a pregação do evangelho. E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Marcos 16:15. Ora, se o ser humano encontra-se morto espiritualmente, só o milagre da vivificação em Cristo poderá capacitá-lo a ouvir e crer. Desde que a fé vem somente pelo ouvir a pregação de Cristo, é só a pregação de Cristo crucificado e ressurreto, bem como a nossa crucificação com ele, que garante também a nossa regeneração juntamente com ele.
Cristo Jesus é o único Salvador da humanidade. Ele foi o único que morreu e ressuscitou para nos incluir em sua morte e ressurreição. Por outro lado, ele é o Autor e o Consumador da fé. Somente ele pode salvar o pecador. Apenas ele pode dar vida espiritual e fé para alguém crer nele. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus. Efésios 2:8.
A graça significa dádiva imerecida. Então, o que não vem de nós e é dom de Deus? Neste texto é a fé. O pecado dos pecados é a incredulidade referente à pessoa de Javé Elohim. (Gênesis 2:16-17). Foi a descrença de Adão que motivou a sua transgressão voluntária. A desobediência é uma seqüela do ceticismo humano em face à ordem de Javé, e a obediência é o efeito da fé doada por Jesus através da pregação do evangelho. Não obedecemos para crer, mas cremos para obedecer.
Temos visto aqui que a religião é o ser humano tentando alcançar o seu deus por seus próprios esforços, enquanto o evangelho é Deus alcançando a humanidade pela graça através da pessoa e obra de Jesus Cristo. Segundo a definição de Jesus, o pecado é não crer nele, logo a salvação do pecado tem que ser rigorosamente crer nele de todo o coração. Foi assim que Paulo confrontou o carcereiro na cidade de Filipos, num momento de sua crise existencial: Responderam-lhe: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa. Atos 16:31.
Agora precisamos considerar um ponto importante neste versículo. O apóstolo não falou: crê em Jesus, mas crê no Senhor Jesus. Ele aqui está se referindo a Javé Elohim, o Senhor Deus. Essa menção é simplesmente fundamental, pois a origem do pecado está relacionada à descrença na pessoa do Senhor Deus. Depois que o homem pecou Deus deixou de ser o seu Senhor.
A questão da salvação do pecado envolve o senhorio de Deus. Cristo é Deus encarnado no Jesus humano. Cristo Jesus é Deus-Homem no caminho da cruz. Ele é o Salvador que veio assumir o pecado dos pecadores e morrer a morte dos condenados pelo pecado. Mas depois de três dias ele ressuscitou dos mortos, tornando-se o Senhor dos senhores.
Os judeus achavam que Jesus era tão somente um dos profetas ou um rabi qualquer. Jesus não foi visto por eles como o Cristo, o Messias de Deus. Ele foi crucificado como um usurpador do trono de Davi, contudo a ressurreição o coloca num pedestal superior ao do rei dos judeus. Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo. Atos 2:36.
O senhorio soberano de Jesus é comprovado pela sua ressurreição. Cristo Jesus é Deus justificando os pecadores na cruz. Jesus Cristo é o Homem que salva como Senhor a todos os que nele crêem, através de sua ressurreição dentre os mortos. Foi precisamente para esse fim que Cristo morreu e ressurgiu: para ser Senhor tanto de mortos como de vivos. Romanos 14:9. O homem Jesus crucificado é o Cristo eterno que morreu para ser o Senhor na ressurreição. O Deus-Homem é o servo sofredor nos redimindo. O Homem-Deus é o Senhor nos salvando do pecado.
Crer em Jesus Cristo como o Senhor é o triunfo eterno sobre o pecado dos pecados. Hugh C. Burr foi preciso: "Jesus não pode ser nosso Salvador, a não ser que seja primeiramente nosso Senhor". Crer no Senhor Jesus é confiar apenas no Homem ressuscitado como o Deus Salvador.
O pecado dos pecados é não crer de todo o coração em Jesus como o Senhor absoluto de nossas vidas. Agostinho dizia que "não dá nenhum valor a Cristo quem não lhe dá valor acima de tudo e de todos como seu único Senhor". Assim como o Senhor Jesus Cristo é a semente pela qual o crente nasce, ele é a raiz que sustenta o santo e o caule que o faz crescer em santidade. Aleluia!